O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou nesta quarta (26) que o acordo para exploração de recursos minerais de seu país pelos Estados Unidos não traz ainda garantias de segurança contra futuras agressões russas em caso de um cessar-fogo na guerra com Moscou.
Segundo ele, as tratativas ainda são “iniciais” e ele espera que o arranjo seja parte de um esforço maior para acabar com o conflito e reconstruir a Ucrânia. Zelenski disse que o sucesso da empreitada está nas mãos de Donald Trump.
Tudo isso sugere o inevitável: mais concessões de Kiev ante o alinhamento de Trump à visão russa do conflito. Comentando isso nesta quarta, o premiê polonês, Donald Tusk, disse que qualquer acordo não “pode ser a capitulação da Ucrânia”.
O presidente americano tem jogado ambiguamente desde que mudou a política externa de seu país e retirou o apoio incondicional a Kiev. Ligou para Vladimir Putin, colocou equipes americanas para negociar diretamente com os russos e ainda pressionou Zelenski, chamando-o de ditador e de dispensável.
Ao mesmo tempo, pôs na mesa um acordo em que os EUA tomariam para si US$ 500 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em reservas de minerais estratégicos dos ucranianos em troca do apoio já dado e, talvez, de algo no futuro. Zelenski rejeitou a oferta, dizendo que não poderia “vender seu país”.
Trump se manteve na ofensiva e o ucraniano aquiesceu, com os americanos retirando o preço da fatura da negociação. Agora, há declarações vagas sobre exploração conjunta e a criação de um fundo mútuo para a reconstrução —algo que o Banco Mundial estima nos mesmos US$ 500 bilhões.
O americano espera Zelenski na sexta (28) na Casa Branca para assinar o acordo, mas o ucraniano disse que isso ainda está sendo negociado. Ele tenta vender a ideia de que não cedeu, e que espera ainda as tais garantias de segurança.
“O acordo é parte de um acerto maior com os EUA. Ele pode ser parte de futuras garantias de segurança, mas temos de entender a visão maior. Depende da nossa conversa com o presidente Trump”, afirmou.
Na conversa que teve com o colega francês Emmanuel Macron, o republicano apoiou a ideia de que elas fossem dadas por uma força de paz europeia, algo que Paris, Londres e Berlim dizem topar. Quem não aceita é a Rússia, algo já reiterado pelo Kremlin e repetido nesta quarta pelo chanceler Serguei Lavrov.
Trump, fiel a seu estilo, disse que Putin concordava com a proposta, o que Moscou negou. O problema, para os russos, é a ideia de tropas da Otan, aliança militar ocidental, estacionadas na Ucrânia —a ideia de Kiev de entrar na aliança foi um dos motivos alegados para a guerra.
Putin se mexeu, fazendo uma oferta que ele diz ser ainda mais suculenta do que a de Kiev no campo de terras raras, minerais empregados na indústria de alta tecnologia que Trump parece desesperado para ter acesso, dado que a rival China tem grandes reservas, e ainda sugeriu produção conjunta de alumínio.
Na prática, com o alinhamento entre a Casa Branca e o Kremlin proposto por Trump, a posição mais forte é a do russo. Mas negociadores em Moscou têm suas suspeitas acerca dos interesses do americano, que tenta levar a discussão política da paz para o campo econômico, temendo uma tentativa de afastar Putin da China.
Isso foi conversado entre o presidente russo e o líder Xi Jinping na segunda (24), quando ambos reafirmaram a aliança estabelecida 20 dias antes da guerra em 2022. Xi disse que a China era a “verdadeira amiga” da Rússia.