Na véspera de a Groenlândia ir às urnas para renovar o Parlamento local, o primeiro-ministro, Mute Egede, afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é “muito imprevisível” e não tratou sua população com respeito desde que expressou interesse em adquirir a ilha no Ártico, que é um território autônomo da Dinamarca.
“As atitudes recentes do presidente dos EUA fazem com que ninguém queira se aproximar tanto [dos americanos] como gostaria no passado”, disse Egede. “Merecemos ser tratados com respeito e não acredito que Trump tenha feito isso ultimamente desde que assumiu o cargo.”
Durante seu anual discurso de Estado da União ao Congresso, na última terça (4), Trump reiterou seu interesse em adquirir a ilha, pintando um quadro de prosperidade e segurança para as “pessoas incríveis” da Groenlândia.
O americano reafirmou esse desejo em postagem em sua plataforma Truth Social, no domingo (9): “Continuaremos a mantê-los seguros, como temos feito desde a Segunda Guerra Mundial. Estamos prontos para investir bilhões de dólares para criar novos empregos e enriquecê-los.”
Uma pesquisa recente indicou que 85% dos groenlandeses não desejam se tornar parte dos EUA, e quase metade vê o interesse de Trump como uma ameaça.
Egede afirmou que é necessário estabelecer limites e se empenhar mais em fortalecer relações com países que demonstram respeito pelo futuro que a Groenlândia deseja construir.
Segundo o primeiro-ministro, depois das eleições desta terça (11) é necessário um plano de ação para a independência. Egede tem repetido que a Groenlândia, cuja população é de apenas 57 mil habitantes, deve decidir sobre seu próprio futuro. Seu partido de centro-esquerda, o IA (Inuit Ataqatigiit, Comunidade dos Povos, em groenlandês), tem uma plataforma independentista. A maioria dos habitantes da Groenlândia declara não querer ser nem dinamarquesa nem americana, mas sim groenlandesa.
A Groenlândia —cuja capital, Nuuk, está mais próxima de Nova York (cerca de 3.000 km) do que de Copenhague, capital dinamarquesa, a 3.500 km— possui riquezas minerais, de petróleo e gás natural, mas o desenvolvimento tem sido lento, e sua economia permanece fortemente dependente, por enquanto, da pesca, bem como de subsídios anuais da Dinamarca. O governo de Copenhague cobre mais da metade do orçamento público da Groenlândia, com repasses anuais em torno de € 645 milhões (R$ 4 bilhões). Esse fator também dificulta o movimento pró-independência.
O próprio IA já disse que não vai convocar um referendo após a eleição geral caso continue no poder, em um sinal de cautela diante do possível impacto econômico da medida. Das 31 cadeiras do Inatsisartut, o Legislativo local, a coalizão governista atualmente tem 21, e a oposição, 10.