“A crise certamente revelou um lado diferente —se não exatamente churchilliano— de Sir Keir Starmer, um lado que é surpreendentemente hábil e determinado”, escreveu a revista britânica The Economist em texto publicado nesta quinta-feira (6).
Em ilustração da capa da edição que circula no Reino Unido, Starmer veste roupas, chapéu, charuto e tem o gestual de Winston Churchill, premiê à frente do país durante a Segunda Guerra Mundial e que se transformou na figura política mais importante da história moderna britânica, sinônimo de liderança em tempos de guerra.
O elogio a Starmer traça um paralelo entre o momento histórico vivido por Churchill durante a ascensão da Alemanha nazista e o grito de guerra lançado por líderes europeus para que o continente se prepare diante de uma eventual expansão russa sem precisar contar com os Estados Unidos, cada vez mais distanciados dos aliados europeus sob Donald Trump.
“Em poucos dias, Sir Keir esboçou um novo papel para o Reino Unido no mundo. Agora, o país deve lidar com uma América que continua indispensável, mas que se tornou pouco confiável —algo que Sir Keir sabiamente se recusa a dizer publicamente. Marginalizada após o brexit, o Reino Unido está emergindo como líder na tarefa da Europa de assumir sua própria defesa”, afirma a revista.
As interações de Starmer com o presidente americano também fazem parte do elogio da revista ao premiê.
“Em Washington, o primeiro-ministro retirou o Reino Unido da mira do ataque tarifário de Donald Trump, encantando o presidente com uma carta do rei Charles 3º. Em Londres, procurou reunir colegas europeus em torno de um plano de paz para a Ucrânia”, diz o texto.
Embora chame atenção o tom elogioso da publicação de orientação conservadora a um líder trabalhista, a Economist já havia declarado apoio a Starmer nas eleições do ano passado, quando o então impopular premiê Rishi Sunak levou o Partido Conservador à pior derrota de sua história.
A publicação não é totalmente laudatória, no entanto. Junto do reconhecimento das ações recentes do premiê aparecem críticas a sua capacidade política doméstica. As roupas de Churchill que vestem Starmer na ilustração também parecem propositalmente folgadas demais.
“Que contraste com a deriva que até agora caracterizou o governo de Starmer. Em busca de um projeto, Sir Keir se inclinou para slogans e preparou uma sopa rala de “missões”, “fundamentos”, “primeiros passos” e “marcos”. Ele desperdiçou uma maioria parlamentar titânica em disputas de pouca importância. Até mesmo Sir Keir pareceu não saber qual é o propósito de Sir Keir”, escreve a revista.
O eixo do texto, então, muda do elogio à dúvida a respeito da capacidade do primeiro-ministro de conseguir mobilizar politicamente a população britânica para escolhas difíceis e suas consequências —notadamente, o aumento do gasto com defesa em detrimento de promessas de bem-estar social próprias do Partido Trabalhista.
“Agora ele sabe [seu propósito]. Mas ele se levantará para enfrentar o que chama de ‘o teste de nossos tempos’, ou o peso desse teste o esmagará? Sua missão no exterior pode acabar por agravar sua falta de propósito em casa. Em vez disso, a reconstrução da segurança europeia deve motivá-lo e se tornar a lógica organizadora de uma agenda doméstica radical”, afirma a Economist.
“Preparar o Reino Unido para a batalha não será popular e está repleto de perigos políticos —Churchill é um excelente exemplo de como os eleitores podem punir até mesmo seu maior herói de política externa. Mas isso deve ser a consagração de Sir Keir”, escreve a revista.