Rebeldes avançam para sul da RDC e expandem invasão – 29/01/2025 – Mundo

Os rebeldes da organização M23, apoiados por Ruanda, moveram-se para o sul da República Democrática do Congo, nesta quarta (29), em direção a Bukavu, a capital da província de Kivu do Sul. A ação indica uma tentativa de expandir a área de controle do grupo no leste do país após a captura da cidade de Goma.

As forças do M23 avançaram a partir da cidade de Minova, de acordo com cinco autoridades da diplomacia e segurança da região. Qualquer avanço bem-sucedido da milícia para o sul pode fazer com que o grupo alcance um feito que não aconteceu em ofensivas anteriores. Também pode aumentar ainda mais o risco de uma nova guerra regional, que atrairia forças de vários países.

O conflito no leste da RDC ocorre há décadas e está enraizado na repercussão do genocídio de Ruanda, em 1994, e na luta pelo controle de lucrativas minas do país. A queda da cidade de Goma para o M23 representa a mais grave escalada desde 2012, quando os rebeldes ocuparam a cidade pela última vez.

As forças de Ruanda estão presentes em Goma apoiando o M23, de acordo com fontes da RDC e da ONU.

Forças do país vizinho Burundi foram enviadas para reforçar as defesas da RDC em Kivu do Sul. O governo de Ruanda não comentou sobre a presença de suas tropas no país vizinho.

Ruanda e Burundi são países pequenos que fazem fronteira entre si e com a RDC. Eles têm relações hostis, com ambos se acusando de apoiar seus respectivos oponentes.

Na atual investida contra Kivu do Sul, os combatentes do M23 estão se aproximando do povoado de Kavumu, onde está localizado o aeroporto de Bukavu.

Em Goma, capital de Kivu do Norte e centro da escalada do conflito, os rebeldes consolidam seu domínio sobre a cidade enquanto patrulham a fronteira com Ruanda. A cidade ainda concentra um grande número de pessoas deslocadas, além de trabalhadores humanitários, forças de paz da ONU e forças da RDC.

Uma enxurrada de atividades diplomáticas parece não ter efeito imediato no local. Os Estados Unidos disseram a Ruanda que estão “profundamente preocupados” com a queda de Goma, e a Alemanha cancelou as negociações de ajuda com o país.

Tiroteios soaram em alguns bairros periféricos de Goma, onde a invasão de segunda-feira deixou corpos espalhados pelas ruas, hospitais sobrecarregados e as forças de paz da ONU desamparadas. “Parece que estamos em uma nação dupla. Estamos no Congo e, ao mesmo tempo, em Ruanda”, disse um morador de uma parte nobre da cidade.

Em um posto de fronteira entre Goma e a cidade de Gisenyi, em Ruanda, repórteres da agência de notícias Reuters viram dezenas de mercenários romenos contratados pelo Congo para reforçar suas defesas cruzando a fronteira com Ruanda —o início de sua jornada de volta para casa, segundo um deles.

Eles fizeram fila para que suas bagagens fossem revistadas por cães farejadores da polícia de Ruanda. Depois de passarem por uma revista corporal e terem seus documentos verificados, embarcaram em ônibus para Kigali, capital ruandesa.

O Congo recorreu a empresas militares privadas para conter o progresso do M23 nos últimos dois anos, mas elas não pareceram oferecer resistência quando os rebeldes marcharam para Goma nesta semana.

O M23 é a mais recente insurgência liderada pela etnia tutsi e apoiada por Ruanda a lutar na RDC desde as consequências do genocídio de 30 anos atrás, quando hutus extremistas mataram tutsis e hutus moderados, e depois foram derrubados por forças tutsis lideradas por Paul Kagame —ele é o presidente de Ruanda desde então.

O governo ruandês afirma que alguns dos criminosos expulsos se abrigam na RDC desde o genocídio, representando uma ameaça aos tutsis do país vizinho e à própria Ruanda. Líderes da RDC rejeitam as afirmações de Ruanda e dizem que o vizinho usa suas milícias para saquear seus minerais.

Em um relatório, especialistas da ONU detalharam a apreensão em relação ao M23, em abril de 2024. O documento cita como pontos de ameaça uma mina em Rubaya, a maior da região dos Grandes Lagos, e a exportação ilegal, desde então, de pelo menos 150 toneladas do minério, que é usado em smartphones, via Ruanda.

A Comunidade da África Oriental, formada por oito estados, da qual RDC e Ruanda são membros, deve realizar uma cúpula de emergência sobre a crise na noite desta quarta. Uma autoridade do governo de Ruanda afirmou que Kagame participará. O presidente do Congo, Felix Tshisekedi, não deve comparecer, segundo um funcionário da presidência e um diplomata regional.