Protestos paralisam Grécia – 05/03/2025 – Mundo

O governo de centro-direita da Grécia deve passar por um voto de confiança ainda essa semana depois que protestos em massa contra a suposta indiferença e falta de responsabilização de autoridades por um acidente de trem em 2023 paralisaram o país.

Centenas de milhares de pessoas foram às ruas em diversas cidades gregas nos últimos dias para marcar dois anos do pior desastre ferroviário da história do país. Em fevereiro de 2023, 57 pessoas morreram e 180 ficaram feridas depois após uma colisão frontal enter um trem de passageiros e um trem de carga na região de Tempi, a cerca de 300 quilômetros de Atenas.

O acidente causou uma onde de revolta entre os gregos, que criticaram as condições obsoletas da infraestrutura ferroviária do país. A causa oficial do desastre foi um erro humano cometido pelo chefe de estação da cidade de Larisa, que permitiu que os dois trens utilizassem a mesmo ferrovia em direções opostas ao mesmo tempo.

Entretanto, mais tarde, foi revelado que o chefe de estação estava de plantão há cinco noites seguidas e estava sozinho no momento do acidente. O sindicato dos condutores da Grécia emitiu uma nota na época dizendo que alertou o governo repetidas vezes que um acidente assim poderia acontecer e chamou a atenção para o fato de que o governo buscava restringir o direito a fazer greve da categoria.

Além disso, um relatório conduzido por um investigador contratado pelas famílias das vítimas chegou à conclusão que a explosão que seguiu ao descarrilhamento, responsável por agravar o desastre, foi causada pelo transporte ilegal de produtos químicos altamente inflamáveis que não estavam declarados no manifesto do trem de carga. Esse relatório foi negado pelo governo, que disse que a explosão foi causada por óleo de silicone dos trens.

Foi a divulgação de um áudio em poder desse investigador que serviu de estopim para os protestos que paralisam o país hoje. Na gravação, dois passageiros ligam para os serviços de emergência e relatam não conseguir respirar —na opinião do investigador, prova de que havia produtos químicos tóxicos envolvidos na explosão.

Parlamentares de partidos de esquerda que compõem a oposição ao primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis protocolaram um voto de confiança na quarta-feira (5) buscando derrubar o governo e convocar novas eleições. Liderados pelo Pasok (Movimento Socialista Pan-Helênico), as siglas acusam o partido governista Nova Democracia de ter perdido o mandato popular depois de tentar se esquivar da responsabilidade pelo acidente de trem.

O governo Mitsotakis nega as acusações e deve sobreviver ao voto de confiança, uma vez que controla 156 das 300 cadeiras do Parlamento grego. Na quarta, o premiê disse que a tentativa de removê-lo ameaça a estabilidade doméstica em um momento de turbulência internacional.

Milhares de pessoas se reuniram em frente à sede do Legislativo e protestaram de forma pacífica, organizando uma vigília para as vítimas do acidente. Mais tarde, a polícia entrou em confronto com manifestantes e disparou bombas de efeito moral contra a multidão.

Em resposta aos protestos, o Parlamento grego resolveu abrir um comitê para investigar a forma como o ex-ministro da Defesa Civil Christos Triantopoulos lidou com o desastre. Triantopoulos nega qualquer omissão, mas sua pasta é acusada de tentar ocultar as causas do acidente ao depositar cascalho sobre o local do desastre horas depois da explosão.