Em sua primeira entrevista a um meio de comunicação após os surpreendentes resultados das eleições presidenciais do Equador, no último domingo (9), o presidente Daniel Noboa, que tenta se manter no cargo, falou em supostas irregularidades na apuração dos votos.
Ele afirmou, sem apresentar provas para corroborar a denúncia, que a contagem não coincide com os cálculos de sua campanha.
“Houve muitas irregularidades e continuamos contando. Continuamos revisando em certas províncias, onde havia coisas que não batiam ou até mesmo não batiam com a contagem rápida da OEA (Organização dos Estados Americanos), que nos colocava com um número maior”, disse Noboa em uma entrevista à Rádio Centro, de Guayaquil.
Apesar das declarações, ele assegurou ter saído na frente no primeiro turno, como indica o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) —nesta terça, com mais de 96% da apuração concluída, 44,15% dos votos válidos haviam ido para o atual presidente e 43,95%, para a outra candidata que chegou ao segundo turno, Luisa González.
Ironicamente, foi Noboa o acusado de cometer irregularidades ao longo da corrida eleitoral.
Críticos afirmam, por exemplo, que o presidente descumpriu a lei quando se recusou a se licenciar da Presidência durante sua campanha à reeleição —sua equipe argumenta que, por estar cumprindo um mandato tampão após o ex-presidente Guillermo Lasso dissolver o Congresso e chamar um novo pleito, em 2023, Noboa não precisa cumprir essa regra.
De qualquer forma, foi com a acusação de irregularidades que o presidente se justificou por não ter comemorado nem feito declarações no final da jornada eleitoral, quando os resultados já apontavam um empate técnico com González, candidata do ex-presidente de esquerda Rafael Correa.
O presidente quebrou o silêncio apenas na segunda-feira (10), com um comunicado frio. “Ganhamos o primeiro turno contra todos os partidos do Velho Equador”, disse.
Para a corrida pela Presidência ser decidida no primeiro turno, um dos candidatos deveria ter recebido mais da metade dos votos válidos ou ao menos 40%, desde que com uma diferença de dez pontos percentuais para o segundo colocado.
Embora as pesquisas de campanha já previssem um segundo turno, o resultado apertado pegou de surpresa os equatorianos, revelando uma nação dividida e imersa na violência do narcotráfico.
A população sente ainda os estragos de um Estado endividado que tenta financiar uma custosa repressão contra gangues. Em 2023, o país registrou o recorde de 47 homicídios para cada 100 mil habitantes, mas, após 14 meses do governo, esse número caiu para 38, segundo informações oficiais —número ainda alto para a nação que já foi considerada uma das mais pacíficas da América Latina.
No dia 13 de abril, quando se celebrará o segundo turno, os candidatos reeditarão o duelo das eleições atípicas de 2023, nas quais Noboa se tornou um dos presidentes mais jovens do mundo.