Polícia israelense invade livraria palestina em Jerusalém – 10/02/2025 – Mundo

A polícia de Israel invadiu uma conhecida livraria palestina em Jerusalém Oriental, acusando seus proprietários de vender livros que incitam o terrorismo, inclusive um livro infantil para colorir intitulado “Do Jordão ao Mar”. Dois dos proprietários, Mahmoud e Ahmad Muna, foram presos neste domingo (9). Outra filial da livraria também foi invadida.

Imagens de circuito fechado de câmeras mostraram a polícia vasculhando as prateleiras, e fotos compartilhadas nas mídias sociais mostraram livros espalhados pelo chão da loja. A filha de 11 anos de Mahmoud, Layla, estava presente quando a polícia realizou a operação, afirmou sua mãe, May Muna.

A Educational Bookshop, próxima à Cidade Antiga, é um marco de Jerusalém há décadas, com uma ampla seleção de livros em árabe e inglês, desde ficção literária até obras de não ficção sobre o Oriente Médio e política mundial.

Popular entre diplomatas estrangeiros, trabalhadores humanitários e turistas, a livraria também tem desempenhado um papel importante na vida intelectual palestina. Também por isso, as prisões foram vistas como um golpe contra o ambiente cultural da cidade.

“Eu, como muitos diplomatas, gosto de procurar livros na Educational Bookshop”, escreveu o embaixador alemão Steffen Seibert em sua conta no X. “Sei que seus proprietários, a família Muna, são palestinos orgulhosos de Jerusalém e amantes da paz.”

A polícia do distrito de Jerusalém confirmou que os policiais prenderam dois residentes de Jerusalém Oriental “suspeitos de vender livros contendo incitação e apoio ao terrorismo em livrarias”. A corporação citou o livro “Do Jordão ao Mar”, sem maiores explicações.

A expressão “do rio ao mar” é uma frase controversa em Israel. Refere-se ao rio Jordão, que delimita a Cisjordânia a leste, e ao mar Mediterrâneo, que banha Israel a oeste, abrangendo toda a extensão do território. Por esse motivo, o mote é frequentemente considerado um apelo à destruição de Israel e uma negação de seu direito de existir —embora muitos palestinos contestem essa interpretação. A frase teve destaque em manifestações por todo o mundo em apoio aos palestinos durante a guerra em Gaza.

Nesta segunda-feira (10), as persianas foram fechadas na filial principal da loja, e os manifestantes se reuniram do lado de fora do tribunal, onde foi realizada uma audiência sobre um pedido da polícia para prorrogar a detenção de Muna por oito dias.

Nasser Odeh, advogado de Mahmoud e Ahmad, disse que eles foram acusados de perturbar a ordem pública. O tribunal ordenou que fossem libertados da detenção, mas os colocou em prisão domiciliar. “A tentativa de esmagar o povo palestino inclui o assédio e a prisão de intelectuais”, disse o grupo de direitos israelenses B’Tselem em um comunicado.

As lojas estão localizadas em Jerusalém Oriental, uma área tomada por Israel na Guerra do Oriente Médio de 1967 e posteriormente anexada em um movimento não reconhecido internacionalmente.