Uma proporção maior de estrangeiros na Alemanha não leva a uma taxa de criminalidade mais alta, afirmou um instituto de pesquisa nesta terça-feira (18), cinco dias antes da eleição nacional —em que ataques violentos ligados a migrantes colocaram a segurança no topo das agendas de campanha.
Em uma análise das estatísticas policiais de 2018 a 2023, o instituto IFO não encontrou “nenhuma correlação entre uma proporção crescente de estrangeiros em um distrito e a taxa de criminalidade local”, afirmou o pesquisador Jean-Victor Alipour. Segundo ele, isso também se aplica aos refugiados.
As questões de imigração e segurança dominaram a campanha antes da eleição do próximo domingo (23), especialmente após uma série de incidentes violentos nas últimas semanas, com as pesquisas mostrando o bloco de centro-direita CDU/CSU na liderança, seguido pela extrema direita da Alternativa para a Alemanha (AfD).
Em sua análise, o instituto de pesquisa levou em conta que os estrangeiros aparecem nas estatísticas de crimes com mais frequência do que o que seria considerado proporcional à sua parcela da população. A razão para isso, segundo o IFO, é que os migrantes têm maior probabilidade de se mudar para centros urbanos com uma taxa de criminalidade estruturalmente mais alta, mesmo entre os cidadãos alemães.
A estratégia de utilizar a imigração como ameaça à segurança nacional foi também adotada no último ano pela campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O republicano inflamou seu eleitorado repetidamente ao anunciar um rol de medidas que tomaria para reduzir o número de imigrantes em situação ilegal no país.
Após eleito, Trump cumpriu boa parte das promessas e tem promovido políticas de deportação e prisão de imigrantes por todo o território americano. Na Alemanha, que agora está na reta final das campanhas eleitorais, o governo reforçou sinais de que despachar imigrantes é também uma prioridade —autoridades da atual gestão anunciaram que o estímulo financeiro para sírios voltarem a seu país deve ser estendido, por exemplo.
Inúmeros casos de violência que envolvem pessoas de origem estrangeira tem sido usados, nesse contexto, para inflamar a retórica anti-imigração no território alemão.
Na semana passada, um imigrante afegão atropelou uma multidão em Munique, ferindo ao menos 36 pessoas, duas das quais morreram posteriormente. Os promotores suspeitam que ele foi motivado pela ideologia islâmica.
Um afegão de 28 anos, sem motivação aparente, usou uma faca de cozinha para atacar pessoas em um parque público, incluindo um grupo de crianças, em Aschaffenburg, na Baviera, no fim de janeiro. Nesse caso, a nacionalidade do agressor habitou de um alerta da ocorrência da polícia local no X aos títulos de sites e jornais —colocando-a acima de fatores mais fortes no caso, como seu histórico de violência e desequilíbrio mental documentado.
A mesma lógica esteve presente no caso do atropelamento de centenas de pessoas em um mercado de Natal, em Magdeburgo, em dezembro de 2024. A nacionalidade saudita do suposto autor do ataque, à época, foi munição para discurso extremista contra imigrantes.