A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Japão para visita de Estado, marcada para os dias 24 a 27 de março, é tratada por Tóquio como de alta importância e uma oportunidade para aprofundar relações econômicas e a cooperação em segurança, paz, defesa e clima.
De acordo com o embaixador japonês no Brasil, Teiji Hayashi, a presença de Lula no Japão será um impulso às relações entre os dois países, que completam 130 anos em novembro deste ano.
O diplomata espera uma comitiva com cerca de 50 empresas acompanhando o presidente brasileiro, que será recebido pelo imperador Naruhito e também pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba.
As visitas de Estado classificadas como de primeira categoria pelos japoneses são restritas a uma por ano. Devido à pandemia da Covid-19, ficaram suspensas por seis anos. Esse tipo de reunião volta a ser promovido agora, com Lula.
“A última visita da primeira categoria no Japão foi a do presidente Donald Trump, durante sua primeira administração. Seis anos depois, para retomar essas visitas de primeira categoria, escolhemos o presidente brasileiro. Isso representa a importância que outorgamos ao Brasil”, afirma Hayashi.
O embaixador define três pilares para os diálogos durante a visita de Lula: paz e segurança internacional; relações econômicas, comércio e investimentos; e clima e energia limpa.
Brasil e Japão compartilham o pleito de reforma da governança global, e ambos são candidatos perenes a ingressarem no Conselho de Segurança das Nações Unidas como membros permanentes, sempre que propostas para a expansão do órgão voltam à mesa.
“Compartilhamos a necessidade de uma reforma do sistema da ordem internacional. Já temos uma base para esse tipo de cooperação sobre a paz e a segurança internacional”, diz Hayashi, que também vê potencial no aumento do intercâmbio entre os países na área de Defesa.
Esta será a segunda ida do presidente Lula ao Japão neste mandato. Em maio de 2023, ele foi a Hiroshima durante a cúpula do G7, quando se reuniu com outros líderes mundiais e com o então premiê japonês, Fumio Kishida, que por sua vez visitou o Brasil em 2024.
À época, em declaração à imprensa após reunião com Kishida no Palácio do Planalto, Lula falou em tom de brincadeira para o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), levar o líder japonês a uma churrascaria em São Paulo.
O Brasil tenta abrir o mercado japonês à carne bovina brasileira há anos, e o pleito tem sido debatido entre os dois países.
O presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, esteve em fevereiro no Japão e no Vietnã em reuniões com autoridades dos países.
Lula também visita Hanói após Tóquio, e há expectativa do setor de abertura desses mercados. O Japão importa carne bovina principalmente da Austrália e dos Estados Unidos.
O cenário atual de disrupções no comércio internacional, particularmente após a volta de Donald Trump ao poder em Washington, preocupa Tóquio, embora o país ainda não tenha sido diretamente afetado pelas tarifas do republicano. Há, no entanto, impactos para empresas japonesas em países atingidos pela sobretaxa, como México e Canadá.
Por outro lado, o panorama de incerteza sugere, de acordo com o embaixador, oportunidades para Brasil e Japão estreitarem laços.
“O mais importante é que Japão e Brasil compartilham valores comuns, como democracia, Estado de Direito, mas também livre comércio, mercados abertos. Estamos trabalhando juntos na OMC para reativar essa organização, por exemplo. Brasil e Japão podem trabalhar para abrir mais o livre comércio internacional, apesar dessa situação difícil no sentido geopolítico”, diz Hayashi.
O embaixador japonês ressaltou ainda projetos comuns entre os dois países, em particular relacionados à crise climática e à combinação de energia limpa brasileira e tecnologia japonesa, como é o caso de montadoras do país asiático que investem em modelos híbridos de etanol e baterias elétricas.
O Japão realizou ainda doação de R$ 13 milhões para o Fundo Amazônia, prometida no ano passado. De acordo com Hayashi, embora exista interesse do país para continuar contribuindo com o fundo e na proteção do bioma amazônico, não há no momento previsão de novos aportes.