Lula e Xi podem não se reunir no ano apesar de Brics no RJ – 16/02/2025 – Mundo

A realização da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho, foi confirmada neste sábado (15). Mas ainda não é certa a presença do líder da China, Xi Jinping, no evento.

Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reuniu-se com o chanceler chinês Wang Yi no próprio sábado. Na ocasião, disse que “haverá encontros futuros”, mas será preciso avaliar a situação. “Tem Brics, tem a China com a Celac, tem a COP30. Não está fácil para os presidentes viajarem.”

O Brasil quer Xi no Brics mas, segundo Wang, há problemas de calendário. “Eu disse para eles, ‘Brics sem China não é Brics'”, afirma Amorim, lembrando que na primeira cúpula no Brasil o então líder Hu Jintao participou mesmo com seu país tendo sofrido terremoto. “Ficou só um dia, mas foi.”

“Reiterei que é muito importante que Xi vá. Ainda mais agora, com o mundo da maneira que está, essa quebra de regras internacionais.” Lista “a saída dos americanos do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde”, temas abordados no encontro com Wang ocorrido em paralelo à Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

Também da Organização Mundial do Comércio (OMC), “que hoje em dia não tem mais o poder de tomar decisões”, com a recusa dos EUA em indicar seus representantes para os julgamentos, “mas sempre é um palco importante”.

Segundo Amorim, “tudo isso reforça a importância dos Brics como órgão de ação, e o Brasil e a China são a grande vértebra dos Brics. A Rússia também é importante, mas hoje é mais um problema para resolver”, devido à Guerra da Ucrânia.

Sobre o Fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe), que tem encontro previsto para maio em Pequim, o assessor afirmou que “os chineses têm muito interesse, mas é difícil o Lula viajar duas vezes para a Ásia no espaço de dois meses” —o presidente brasileiro deve ir ao Japão, para uma visita de Estado, em 25 e 26 de março.

Além disso, completa, “o Lula também tem que olhar muito, atualmente, a política interna”.

Quanto à terceira data para o eventual encontro dos líderes, a COP30, cúpula da ONU para o clima, a ser realizada em novembro, em Belém, no Pará, o Brasil convidou Xi, mas a reação teria sido negativa, segundo uma fonte diplomática brasileira.

De acordo com o Ministério do Exterior chinês, no encontro com Amorim, o chanceler sublinhou a disposição de “implementar os consensos alcançados” entre Xi e Lula em sua reunião em novembro, em Brasília.

“A sinergia entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil injetaram ímpeto na cooperação”, teria dito Wang, segundo o relato. “Como forças representativas do Sul Global, a China e o Brasil, enfrentando um mundo turbulento e interligado, mantêm foco estratégico e trabalham juntos.”

O assessor especial de Lula, que falou com a Folha por telefone de Paris, confirmou que realizou-se uma “análise do progresso lento, muito no começo, que tem sido feito nos projetos” de sinergia bilaterais na reunião.

Ele e Wang em seguida abordaram a política global. “Falamos das tarifas [americanas], da imprevisibilidade com que Donald Trump atua, o que torna a relação Brasil-China ainda mais importante.”

Amorim ainda comentou com a reportagem a visita feita dias antes à China pela secretária-executiva do Itamaraty, Maria Laura Rocha, dizendo que “ela estava muito feliz com as discussões” realizadas. Segundo fontes chinesas, a diplomata tratou com o vice-ministro do exterior, Ma Zhaoxu, de temas estratégicos internacionais e da América Latina.

A mídia estatal chinesa, que vinha cobrando as “potenciais contramedidas do Brasil em resposta às tarifas dos EUA” em veículos como o canal de notícias CGTN passou no final de semana a destacar que Lula prometeu impor tarifas aos EUA.

“Haverá reciprocidade”, disse o presidente brasileiro, citando também um possível recurso junto à OMC como aquele feito por Pequim, segundo despacho da agência Xinhua.