Israel acusa militares de tortura a prisioneiro palestino – 19/02/2025 – Mundo

Um promotor militar de Israel acusou cinco reservistas de terem torturado um palestino na prisão de Sde Teiman, disse o Exército do país nesta quarta-feira (19). Os abusos teriam deixado o homem com as costelas quebradas, o pulmão perfurado e o reto rasgado.

As denúncias são a última etapa de um caso envolvendo um prisioneiro capturado de uma unidade de elite do grupo terrorista Hamas. O episódio trouxe à tona relatos de uma série de abusos de prisioneiros em Sde Teiman, uma instalação de detenção militar no sul de Israel.

A tortura teria acontecido em 5 de julho de 2024, quando os cinco reservistas estavam trabalhando na prisão, localizada no deserto de Negev. De acordo com a denúncia, a violência teria ocorrido durante uma revista do prisioneiro, quando ele estava com as mãos e os tornozelos algemados e os olhos vendados.

“A acusação denuncia os réus por agir contra o detento com extrema violência, inclusive esfaqueando suas nádegas com um objeto afiado, que penetrou perto do reto”, disse o Exército em comunicado. “Além disso, de acordo com a acusação, os atos de violência causaram lesões físicas graves ao detento, incluindo costelas quebradas, um pulmão perfurado e uma laceração retal interna.”

A nota afirma ainda que as evidências no caso eram extensas e incluíam documentação médica e imagens de câmeras de segurança.

O caso provocou intenso debate no país quando eclodiu, no ano passado. Manifestantes civis chegaram a invadir o complexo de Sde Teiman enquanto os investigadores questionavam os soldados.

Para grupos de direitos humanos, o caso foi um dos vários incidentes semelhantes contra palestinos, que formam um padrão de abuso. No início deste mês, por exemplo, um tribunal militar condenou um soldado a sete meses de prisão por abuso grave de prisioneiros palestinos.

Na última segunda-feira (17), o médico palestino Tarek Rabie Safi, 39, libertado de uma prisão israelense como parte de um acordo de cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas, afirmou à agência de notícias Reuters que foi subalimentado durante quase um ano em cativeiro.

Pai de dois filhos, Safi foi libertado junto com outros 368 detidos palestinos no sábado (15), após o Hamas soltar três reféns israelenses de Gaza.

“Fui mantido pelo Exército israelense no ‘envelope’ de Gaza, que é Sde Teiman, onde fiquei por quatro meses. Fui submetido a tortura física e fome”, disse Safi, com aparência abatida. Segundo ele, não havia comida adequada nem tratamento médico. “Meu braço estava quebrado, e eles não me trataram nem me levaram para ser examinado por um médico.”

O Exército israelense rejeitou o relato em uma resposta por email às perguntas da Reuters, dizendo que os detidos recebem comida e bebida regularmente e têm acesso a cuidados médicos, e que, se necessário, são transferidos para uma instalação médica com capacidades avançadas.

Safi, que foi detido em março do ano passado perto de Khan Younis, no sul de Gaza, disse ter presenciado a morte de outro detido.

“Um jovem que estava comigo foi martirizado, Mussab Haniyeh, que Deus tenha misericórdia dele, na mesma sala. Esse jovem era forte, mas, devido à falta de comida, falta de bebidas e tortura frequente, ele foi martirizado diante dos nossos olhos”, disse Safi.

O Exército israelense disse estar ciente de incidentes que envolvem mortes de detidos, mas afirma que não pode fazer comentários, pois as investigações estão em andamento.

A Associação de Prisioneiros Palestinos, que documenta as detenções israelenses de palestinos, disse que Israel está realizando “crimes sistemáticos e ataques de vingança” contra prisioneiros. Abdullah al-Zaghari, chefe da associação, disse que o grupo documentou testemunhos que incluem espancamentos. A Reuters não pôde confirmar de forma independente os relatos.

No ano passado, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional disse que 27 detidos libertados descreveram consistentemente terem sido submetidos a tortura em pelo menos uma ocasião durante sua prisão.