Exercício militar da China obriga aviões a desviar de rota – 21/02/2025 – Mundo

Numa rara ocorrência, aviões de empresas da Austrália e da Nova Zelândia tiveram de alterar suas rotas já durante o voo nesta sexta (21) para evitar passar por uma área em que navios chineses faziam um exercício militar com munição real, em águas internacionais entre os dois países.

“Eles cumpriram as normas internacionais em termos de emitir o aviso, mas foi em cima da hora e colocou aviões comerciais numa circunstância desconcertante na qual eles tiveram de desviar muito rapidamente”, queixou-se o ministro da Defesa australiano, Richard Marles.

O premiê do país, Anthony Albanese, também comentou o episódio e disse não saber se os navios chineses chegaram a usar munição real. Ele enviou um pedido de explicações à embaixada da China no seu país.

Não foi divulgado o número de voos da Qantas australiana e da Air New Zealand que foram afetados. A prática internacional nesses casos é emitir um alerta padrão, chamado Notam (acrônimo inglês para Aviso aos Aviadores), geralmente com alguns dias de antecedência.

Assim, empresas aéreas podem reprogramar rotas que passam por áreas afetadas por exercícios militares ou lançamento de foguetes, sobre mar ou terra, antes da decolagem.

“Os navios chineses fizeram uma transmissão que foi captada pelas empresas aéreas ou literalmente pelos aviões que estavam voando sobre o mar da Tasmânia [que separa os dois países]”, disse Marles à rádio ABC.

Em Pequim, o porta-voz diplomático Guo Jiakun disse que “os exercícios obedeceram a padrões de segurança e operações profissionais, em total acordo com as leis e práticas internacionais”.

A flotilha chinesa está no mar neutro entre a costa de Nova Gales do Sul, na Austrália, e a Nova Zelândia. É bastante raro uma força-tarefa de Pequim operar tão ao sul, e as marinhas australiana e neozelandesa enviaram embarcações para a acompanhar o grupo, composto pelo destróier Zunyi, a fragata Hengyange o navio-tanque Weishanhu.

O episódio é o mais recente em uma série de estranhamentos entre a Austrália e a China. Além de integrar o Quad, grupo de segurança com EUA, Japão e Índia, o país da Oceania anunciaram em 2021 um acordo militar inédito com Washington e Reino Unido, o Aukus —outro acrônimo em inglês, com as iniciais de cada nação.

Sob os termos do Aukus, a Austrália terá submarinos de ataque com propulsão nuclear a partir da década de 2030, os primeiros americanos e os segundos, britânicos. Com isso, o país será o sexto do mundo a ter esse tipo de embarcação furtiva —ressaltando que ela não carregará armas nucleares.

Por outro lado, os portos australianos serão abertos para navios de guerra e submarinos americanos e britânicos, transformando a ilha em uma base avançada.

A China e sua aliada Rússia protestaram duramente contra a iniciativa, que expõe o flanco sul das rotas comerciais de Pequim do Pacífico para o Índico, por onde passa o grosso de sua exportação e via de chegada de 80% do petróleo consumido pelo colosso asiático.

Parte do caminho foi tomado informalmente por Pequim, com a militarização de ilhotas e atóis do mar do Sul da China, que a ditadura comunista diz ser 85% seu, o que é contestado por países como as Filipinas. Num conflito hipotético, alguns desses submarinos podem causar grandes danos.

Sem muito alarde, a Austrália vem se tornando uma potência militar regional relevante, e em 2023 anunciou um plano quadrianual que prevê o maior investimento em defesa desde a Segunda Guerra Mundial.

Como o resto do mundo, o país aguarda o que a nova gestão de Donald Trump na Casa Branca trará para a região. Em seu primeiro mandato (2017-21), o republicano lançou a Guerra Fria 2.0 contra os chineses e reavivou o Quad. Joe Biden dobrou a aposta e assinou o Aukus.

Nesta semana, a ilha autônoma de Taiwan disse querer comprar bilhões de dólares em armas americanas, mantendo seu desafio à pretensão chinesa de tomá-la. A alinhamento de Trump com a Rússia na negociação para acabar com a guerra na Ucrânia eleva os temores de mudança de rota, em especial se o americano se acertar com os chineses num pacto comercial.