O Departamento de Estado dos Estados Unidos ordenou a embaixadas e consulados do país o cancelamento de todas as assinaturas de veículos e agências de notícias consideradas “não essenciais para a missão”, de acordo com orientações internas por email visualizadas pelo jornal The Washington Post.
A medida está alinhada com ataques recentes da gestão de Donald Trump às empresas de mídia que contam com o governo dos EUA como clientes.
Um memorando de 11 de fevereiro, enviado a embaixadas e consulados na Europa, descreveu a medida como parte de um esforço para reduzir gastos. O email dizia: “Considerando esta prioridade, os postos são solicitados a ordenar a pausa imediata em todos os contratos/pedidos de compra de assinaturas de mídia (publicações, periódicos e assinaturas de jornais) que não sejam revistas acadêmicas ou profissionais.”
Outro memorando, de 14 de fevereiro, direcionou as equipes de compras em embaixadas e consulados a priorizar a rescisão de contratos com seis organizações de notícias em particular: a revista britânica The Economist, o jornal americano The New York Times, os sites Politico e Bloomberg News e as agências de notícias Associated Press e Reuters.
A determinação ecoa gesto do então presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), próximo de Trump. Na ocasião, Bolsonaro disse que cancelaria assinaturas da Folha em órgãos do governo federal. Em tom de ameaça, declarou que os anunciantes do jornal deveriam “prestar atenção”.
“Espero que não me acusem de censura. Está certo? Quem quiser comprar a Folha de S.Paulo, ninguém vai ser punido, o assessor dele vai lá na banca e compra lá e se divirta. Eu não quero mais saber da Folha de S.Paulo, que envenena o meu governo a leitura da Folha de S.Paulo“, afirmou Bolsonaro à época.
A medida do Departamento de Estado americano se aplica a centenas de embaixadas e consulados dos EUA, de acordo com um funcionário que falou com o jornal americano nesta terça-feira (18) sob anonimato.
De acordo com esse servidor, equipes de segurança das embaixadas dependem da cobertura de notícias para se preparar para viagens diplomáticas em zonas de conflito, por exemplo. O cancelamento de assinaturas —incluindo de veículos de notícias locais— pode prejudicar a avaliação de ameaças.
O Departamento de Estado não respondeu a um pedido de comentário do Washington Post.
Os servidores do Departamento de Estado foram informados de que poderiam enviar um pedido para manter determinada assinatura, mas que isso “deve ser feito em uma frase.”
A orientação apresentou possíveis justificativas: se a assinatura afetar a segurança de funcionários ou das instalações dos EUA; se for exigida por tratado ou lei; ou se resultar em uma resposta afirmativa a uma das seguintes perguntas: “Isso torna a América mais segura? Isso torna a América mais forte? Isso torna a América mais próspera?”
Um funcionário do Departamento de Estado que recebeu os memorandos e os compartilhou com o Washington Post expressou preocupação de que a rescisão de assinaturas de notícias —particularmente de veículos locais— privaria embaixadas e consulados de informações necessárias para realizar sua missão.
Em uma videoconferência no dia seguinte ao envio do memorando inicial, os servidores do departamento receberam uma apresentação sobre a ordem, com um slide dizendo que foi implementado “em apoio à gestão.”
Cerca de uma semana antes de a orientação de 11 de fevereiro ser divulgada, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o governo estava cancelando contratos de assinaturas com o site Politico, que se tornou alvo de críticas entre aliados do presidente, incluindo o bilionário Elon Musk, depois que usuários no X chamaram a atenção para contratos governamentais de assinaturas do Politico Pro, um serviço pago do site.
Outros setores do governo, incluindo o Departamento de Agricultura, também disseram que planejavam cancelar assinaturas do Politico. Funcionários da Administração de Serviços Gerais foram instruídos a “cancelar todos os contratos de mídia”, de acordo com o site Axios.
Trump já havia barrado a Associated Press de acompanhar entrevistas coletivas no Salão Oval da Casa Branca e viajar no avião presidencial devido à decisão da agência de continuar usando o termo Golfo do México em vez de Golfo da América, um mudança de nomenclatura feita pelo republicano.