Um juiz eleitoral do Equador suspendeu por dois anos os direitos políticos da vice-presidente Verónica Abad, que desde 2023 mantém embates com o líder do país, Daniel Noboa, que tentou suspendê-la do cargo.
A sanção, divulgada perto da meia-noite desta sexta (28), inclui uma multa de US$ 14.100 (R$ 82 mil) e é de primeira instância, portanto, a vice pode recorrer da decisão.
No âmbito de uma denúncia da chanceler Gabriela Sommerfeld contra Abad por violência de gênero, o juiz Guillermo Ortega, do Tribunal Contencioso Eleitoral, impôs à vice a “suspensão de seus direitos de participação” na política por dois anos, segundo a resolução.
A vice não reagiu a esta nova punição, imposta a um mês e meio do segundo turno presidencial que Noboa disputará com a esquerdista Luisa González para o período 2025-2029, que começará em 24 de maio próximo.
Sua advogada Dominique Dávila discordou da sentença e afirmou na rede social X que a decisão “contém desvios”.
Se a sanção for confirmada, Abad não poderá continuar exercendo o cargo para o qual foi eleita em chapa com Noboa nas eleições antecipadas de 2023.
A vice-presidente, que acusa o governante de impedir que ela exerça suas funções, teve seu escritório em Quito fechado novamente em 7 de fevereiro, em meio a tensões e dois dias antes das eleições gerais, nas quais Noboa, que busca a reeleição, foi o mais votado, mas com uma margem mínima de diferença.
Para sua campanha pela reeleição, Noboa evitou delegar a Presidência a Abad, o que para setores de oposição e especialistas é inconstitucional.
Abad acusa Noboa de violência de gênero, e ele afirma que escolhê-la foi um erro. Para a nova eleição, ele formou chapa com sua ex-ministra María José Pinto.
Distanciados desde a campanha para as eleições extraordinárias, a ruptura entre os dois foi evidente quando Noboa, pouco depois de assumir o poder, ordenou que Abad fosse para Israel, onde foi designada embaixadora. Alegando descumprimentos nos cargos diplomáticos, o governo tentou suspendê-la, mas ela travou uma batalha judicial que lhe permitiu recuperar suas funções.
“Sou parte de um binômio cuja ruptura foi clara desde o início devido ao fato de que a proposta de campanha que fizemos para melhorar os problemas, especialmente a insegurança, não foi cumprida”, disse Abad em entrevista à Folha.
“E marquei minha clara diferença diante de atos arbitrários, como o fato de ter sido enviada a Israel, em busca da paz. Na verdade, foi um claro exílio para me afastar das minhas funções próprias como vice-presidente constitucional.”
Aos 48 anos, Abad é política da direita, liberal e natural de Cuenca, na região dos Andes. Ligada ao empresariado, ela logo se destacou e mostrou, aos olhos de analistas, um perfil com potencial para encampar a campanha anticorrerísta (referência ao ex-presidente de esquerda Rafael Correa, hoje asilado na Bélgica, e à agora candidata à Presidência Luisa González, sua pupila).