A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, disse nesta terça-feira (28), durante visita à França e à Alemanha, que recebeu “enorme apoio” de seus parceiros europeus após os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a Groenlândia, um território dinamarquês autônomo.
“A mensagem é muito, muito clara”, disse ela. “O território e a soberania dos Estados, um elemento essencial da comunidade internacional, devem ser respeitados”, disse Frederiksen à imprensa dinamarquesa em Paris, logo após se reunir com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Trump, que voltou à Casa Branca no último dia 20, vem dizendo que os EUA têm de assumir o controle desse território dinamarquês no Ártico, onde se estima que haja grandes reservas de minerais e cuja localização é considerada estratégica. Segundo o republicano, a medida é necessária para garantir a segurança de seu país.
As declarações, contudo, vêm motivando críticas. “As fronteiras não devem ser movidas pela força”, disse o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, após receber a primeira-ministra dinamarquesa em Berlim.
O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, também reforçou nesta terça que Copenhague não aceitaria uma eventual anexação da ilha pelos EUA: “Trump não ficará com a Groenlândia”.
Na véspera, o governo dinamarquês anunciou um investimento de 14,6 bilhões de coroas dinamarquesas (cerca de R$ 12 bilhões) para reforçar sua presença militar no Ártico, em resposta à pressão de Trump.
Após mais de uma década de cortes drásticos nos gastos com defesa, a Dinamarca determinou, no ano passado, o envio de 190 bilhões de coroas dinamarquesas (cerca de R$ 158 bilhões) para suas Forças Armadas ao longo de dez anos —parte desse montante será destinada ao Ártico.
A Dinamarca, embora seja responsável pela segurança e defesa da Groenlândia, tem capacidades militares limitadas na ilha. Atualmente, as capacidades dinamarquesas incluem quatro embarcações de inspeção antigas, um avião de vigilância Challenger e 12 patrulhas de trenó puxadas por cães, todas encarregadas de monitorar uma área quatro vezes o tamanho da França.
O pacote anunciado pelo governo inclui o financiamento de três novas embarcações da Marinha, investimentos em drones de vigilância —dobrando o número desses equipamentos—, além de monitoramento por satélite, disse o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen.
Pouco antes da posse, Frederiksen conversou por telefone com Trump, a quem disse que cabia à Groenlândia decidir sobre seu futuro. O primeiro-ministro da ilha, Mute Egede, também já disse várias vezes que o território não está à venda.
Trump começou seu segundo mandato com ameaças sobre anexar a Groenlândia, o Canal do Panamá e até mesmo o Canadá.
As Forças Armadas dos EUA têm uma presença permanente na base de Pituffik, no noroeste da Groenlândia, uma localização estratégica para seu sistema de alerta antecipado de mísseis balísticos, já que a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha.
A Groenlândia, com 57 mil habitantes, é um ponto de entrada para novas rotas de navegação que estão gradualmente se abrindo através do Ártico em razão do aquecimento global. A ilha também possui minerais abundantes, mas de difícil acesso e exploração.