A rede britânica BBC retirou do ar nesta sexta-feira (21) um documentário que acompanhava a vida de crianças na Faixa de Gaza. A decisão se deve ao fato de ter vindo à tona que o adolescente que narra o filme é filho de um homem que foi vice-ministro da Agricultura no governo do Hamas no território palestino.
O documentário, acompanhado de uma reportagem publicada pelo site da emissora e também removida, é narrado por Abdullah, 13, e foi criticado após sua transmissão em razão dos vínculos familiares do adolescente.
“Dada a natureza séria dessas preocupações, a BBC deve imediatamente adiar qualquer repetição de transmissão do programa, removê-lo do iPlayer [plataforma de streaming da emissora] e retirar quaisquer clipes do programa das redes sociais até que uma investigação independente seja realizada e suas conclusões sejam publicadas com total transparência para os pagadores da taxa de licença”, afirmou em carta à BBC um grupo de críticos, que incluía atores e ex-produtores da emissora pública britânica.
A BBC afirma que a equipe de produção teve controle total das filmagens.
“Desde a transmissão do nosso documentário sobre Gaza, a BBC tomou conhecimento das conexões familiares do narrador do filme, uma criança chamada Abdullah. Prometemos ao nosso público os mais altos padrões de transparência, por isso é justo que, como resultado desta nova informação, acrescentemos mais detalhes ao filme antes de sua retransmissão. Pedimos desculpas pela omissão desse detalhe no filme original”, diz a emissora.
“Seguimos todos os nossos procedimentos habituais de compliance na realização deste filme, mas não fomos informados dessa informação pelos produtores independentes quando compilamos e depois transmitimos o filme finalizado. O filme continua sendo uma poderosa visão infantil das consequências devastadoras da guerra em Gaza, que acreditamos ser um testemunho inestimável de suas experiências, e devemos cumprir nosso compromisso com a transparência”, afirma ainda a BBC.
A retratação do documentário ocorre durante o cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista que prevê a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, e na semana em que a entrega dos corpos de alguns dos reféns provocou indignação —colocando em risco a trégua.
O Hamas promoveu um desfile com quatro caixões contendo os corpos de reféns. Eles seriam Oded Lifschitz e Shiri, Ariel e Kfir Bibas, mãe, filho e bebê de uma mesma família que se tornou símbolo dos pedidos por resgate dos sequestrados no dia 7 de outubro de 2023.
Na quinta-feira (20), no entanto, Israel afirmou que o corpo da mãe da família Bibas, Shiri, não era o que estava no caixão correspondente entregue pelo grupo terrorista. O Hamas disse, então, que os restos mortais de Shiri poderiam ter se misturado com o de outros cadáveres e entregou nesta sexta um novo corpo que diz ser dela.