Assassinato do ativista negro Malcolm X completa 60 anos – 21/02/2025 – Mundo

O que realmente aconteceu em 21 de fevereiro de 1965, quando Malcolm X, ícone do movimento pelos direitos civis, foi morto a tiros em Nova York? Sessenta anos após seu assassinato, um dos mais notórios da história dos Estados Unidos, sua família ainda está em busca da verdade.

A figura nacionalista negra está sendo homenageada nesta sexta-feira (21), especialmente por seu legado de “justiça social”, escreve o Shabazz Center, um centro memorial e educacional criado no antigo salão de dança no bairro do Harlem, onde ele foi assassinado aos 39 anos, no auge de sua influência e apenas alguns meses após a abolição da segregação racial.

E como a tragédia pode ter ocorrido no meio de uma reunião pública, quando as autoridades estavam cientes das ameaças contra o ativista, porta-voz da Nação do Islã e depois da abolição da discriminação?

Para obter respostas, sua família entrou com uma ação civil em novembro do ano passado exigindo US$ 100 milhões (cerca de R$ 570 milhões) da polícia e das agências federais que, segundo eles, desempenharam um papel em seu assassinato. Eles também pedem que os documentos sobre o crime deixem de ser confidenciais.

No caso, que será julgado em um tribunal de Manhattan no início de março, a família afirma ter novas provas que lhes permitem levar ao tribunal o FBI, a CIA e o Departamento de Polícia de Nova York.

“Esperamos que a tão esperada verdade venha à tona, depois de 60 anos, e que o que aconteceu seja documentado”, disse Ilyasah Shabazz, filha de Malcolm X, à agência de notícias AFP.

Malcolm X foi morto ao ser baleado 21 vezes na frente de Ilyasah e da mãe dela, Betty Shabazz (1934-1997), enquanto discursava para apoiadores da Organização da Unidade Afro-Americana.

De acordo com a ação judicial, a família de El-Hajj Malik el-Shabazz, nome adotado pelo ativista negro após sua peregrinação a Meca, acredita que as agências de aplicação da lei e de inteligência dos EUA afastaram os policiais normalmente designados para protegê-lo na noite da tragédia.

Policiais à paisana também não intervieram no momento do crime e, desde sua morte, as agências de inteligência têm trabalhado para encobrir suas ações, de acordo com a denúncia.

“Esse acobertamento se arrasta há décadas, privando a família Shabazz da verdade e de seu direito à justiça”, disse à AFP o advogado Benjamin Crump, que atua no caso em nome das três filhas de Malcolm X. “Estamos fazendo história ao confrontar essas queixas e exigir responsabilidade nos tribunais”, disse o especialista em casos de direitos civis.

O caso ressurgiu em 2021, quando dois dos três homens condenados pelo assassinato e que passaram mais de 20 anos atrás das grades foram finalmente soltos. A condenação injusta dos dois acusados negros foi um dos maiores erros judiciários dos EUA. Eles receberam compensação de US$ 36 milhões (R$ 205 milhões) da cidade e do estado de Nova York.

“Agora sabemos exatamente como o assassinato de Malcolm X ocorreu. Sabemos quem foram os responsáveis, cinco membros da Nação do Islã. A única coisa que não sabemos é quem deu a ordem”, diz Abdur-Rahman Muhammad, historiador e renomado especialista no caso, cujo trabalho ao longo de décadas ajudou a inocentar os dois acusados injustamente.

Para ele, as provas agora apresentadas pela família de Malcolm X “não são muito confiáveis”. Mas “se a denúncia possibilitar a determinação de quem deu a ordem final, então ela terá valor”.

O historiador diz acreditar que essa enésima reviravolta nos acontecimentos terá, pelo menos, servido para colocar os holofotes de volta no legado de Malcolm X, mais importante do que nunca, ainda mais sob o segundo mandato de Donald Trump, o “inimigo implacável” da comunidade negra, em suas palavras.

“Isso incentivará os negros a se unirem”, diz o historiador. “Basicamente, a comunidade negra precisa voltar à sua mensagem: lutar”.