A França como pilar da nova direita dos Estados Unidos – 18/03/2025 – Ross Douthat

Há uma certa tensão na maneira como o conservadorismo dos Estados Unidos vê a Europa. Por um lado, Donald Trump e seus aliados insistem que os países europeus precisam assumir responsabilidades, agir como potências mundiais sérias e assumir muito mais encargos militares.

Por outro lado, muitos direitistas americanos demonstram desprezo por um continente que consideram impotente, decadente e basicamente condenado. E têm um desprezo especial pela atual estrutura por meio da qual os europeus agem em conjunto: a pseudoconfederação burocratizada (veja, estou expressando desprezo eu mesmo) da União Europeia.

Como consequência, os conservadores americanos tendem a simpatizar com partidos da extrema direita europeia, pois estes se opõem ao consenso eurocrata. Mas esses partidos costumam estar mais inclinados a um recuo nacionalista do que a uma ação europeia concertada. Assim, os europeus que lembram que os Estados Unidos frequentemente foram cúmplices da emasculação estratégica da Europa (começando com a amistosa investida de Franklin Roosevelt para tomar o lugar do Império Britânico) podem suspeitar, com razão, que quando figuras como Elon Musk apoiam partidos como a Alternativa para a Alemanha, eles estão, tacitamente, incentivando a Europa a se fechar ainda mais e deixar o campo global para os EUA.

Isso significa que, para os conservadores americanos que realmente querem uma Europa capaz, simplesmente apoiar o populismo europeu não é suficiente. Em vez disso, a direita americana deveria apoiar conscientemente uma França mais forte. Deveria incentivar uma relação especial entre as duas repúblicas, apoiar a primazia francesa no continente, tratar Paris e não Bruxelas como a capital da Europa e ver o Exército francês como a peça-chave da segurança europeia.

Na prática, deveríamos revisitar a tentativa de Charles de Gaulle de manter mais independência francesa dentro da aliança ocidental —algo que o tornou uma pedra no sapato dos EUA durante a Guerra Fria— e reconhecer que ele estava certo. Não era, de fato, do interesse dos EUA a longo prazo transformar a Europa em uma dependente total, porque a vassalagem incentiva a fraqueza, e a fraqueza reduz o valor da aliança em um mundo que os Estados Unidos já não podem simplesmente dominar sozinhos.

Claro, pode ser tarde demais para que a Europa escape da decadência: o objetivo de transitar de um “Estado de bem-estar” para um “Estado de guerra”, como colocou o colunista do Financial Times Janan Ganesh, pode estar fadado ao fracasso devido às expectativas de um eleitorado envelhecido.

Mas a única maneira de a Europa fazer essa transição é por meio da reafirmação de suas grandes nações —e a única grande nação capaz disso no momento é a França. O Exército francês é limitado, mas ainda é “indiscutivelmente o mais capaz da Europa Ocidental”, como observou Michael Shurkin em uma análise de 2023 para o War on the Rocks, com uma capacidade resiliente para ações expedicionárias. Sua estratégia de energia nuclear lhe garantiu um grau de independência energética que contrasta fortemente com a imprudente desindustrialização verde da Alemanha. Suas políticas pró-natalidade lhe deram uma vantagem demográfica sustentada; a França está envelhecendo, mas sua taxa de fertilidade não está desmoronando como na Itália, na Espanha ou, mais recentemente, na Polônia.

Além disso, psicologicamente, a França não tem o sentimento debilitante de culpa histórica que ainda permeia a Alemanha, nem o complexo de parceiro subordinado que tornou o Reino Unido um apêndice malsucedido dos recentes erros de política externa dos EUA. A França incorpora duas formas distintas de universalismo —católico-romano e republicano— que têm mais apelo histórico na Europa do que o estilo anglo-americano de império. E a rápida renovação da Catedral de Notre-Dame de Paris, somada ao recente “suave renascimento” da prática católica em meio a um ambiente secularizado, sugere possibilidades mais fortes de renovação espiritual.

Esse último ponto é crucial para os conservadores americanos. O establishment europeu atual, secular e socialmente liberal mesmo em suas formas conservadoras, muitas vezes parece um aliado natural não dos Estados Unidos como um todo, mas apenas do progressismo americano. Portanto, a direita americana deveria desejar ver um conservadorismo europeu mais substancial emergir —mais ambicioso do que as facções populistas de hoje e capaz, como disse o direitista francês Pascal-Emmanuel Gobry na semana passada, de afirmar as raízes “greco-romanas e judaico-cristãs” da Europa, em contraste com o progressismo anglo-americano.

Emmanuel Macron não é esse conservador, mas claramente tem impulsos na direção que descrevi. Não é coincidência que ele tenha sido mais bem-sucedido do que outros líderes europeus em lidar e se relacionar com Trump, ao mesmo tempo que busca uma maior liderança na Europa —inclusive em um grande discurso na semana passada em que sugeriu a ideia de estender um guarda-chuva nuclear francês sobre o continente.

Não espero que isso aconteça; a Europa ainda precisará dos Estados Unidos militarmente, mesmo que consiga mais independência estratégica. Mas os franceses deveriam buscar um líder conservador, idealmente com uma certa ideia da França, que possa continuar de onde Macron (que tem limite de mandato) parar e oferecer aos EUA o que precisam da Europa agora: um parceiro espinhoso, mas ambicioso, interessado em encontrar seu próprio caminho para sair da decadência e renovar nossa aliança mais antiga para este estranho novo mundo do século 21.


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