Democratas focam Musk como vilão na nova era Trump – 15/03/2025 – Mundo

Quando todas as cadeiras da sala comunitária da biblioteca foram ocupadas, os desanimados eleitores democratas se sentaram no chão ou se encostaram nas paredes. Tirando seus casacos de inverno, um a um pegou o microfone para desabafar sobre seus medos em relação a cortes no Medicaid, operações de deportação, violência armada, redução do apoio aos agricultores e ataques a pessoas trans.

Mas no centro de sua indignação estava um homem: Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, conselheiro do presidente Donald Trump e arquiteto do plano da gestão para demitir trabalhadores federais e fechar programas governamentais.

“Aos legisladores: façam seu maldito trabalho. Tirem Elon Musk do governo. Retomem seu próprio poder”, disse Riley Neal, 20, sob aplausos.

O encontro de quinta-feira (13) para expor essas frustrações ocorreu em um condado decisivo dentro de um estado igualmente disputado e aconteceu no momento em que grupos ligados a Musk investiram mais de US$ 8 milhões na eleição de 1º de abril. Essa eleição determinará o controle da mais alta corte de Wisconsin e servirá como um teste inicial para a agenda de Trump e Musk.

Além desse encontro —o primeiro de vários planejados para as próximas três semanas— os democratas lançaram uma campanha publicitária digital sobre a disputa judicial, mostrando Musk empunhando uma motosserra e levantando o braço em um gesto que muitos compararam a uma saudação nazista.

Em todo o país, democratas e seus aliados estão direcionando sua raiva para Musk e usando sua figura para mobilizar a base contra os cortes de Trump nos programas federais. Eles entraram com processos contra ele. Exigiram investigações no Congresso. Durante o discurso de Trump no Congresso, ergueram cartazes com a frase “Musk rouba”. Um grupo progressista exibiu um painel digital na Times Square mostrando Musk manipulando a Casa Branca como uma marionete, enquanto outro lançou reuniões chamadas “Musk ou nós” em distritos republicanos.

Seus esforços surgem enquanto os republicanos demonstram reações mistas à tentativa de Musk de reduzir o governo por meio do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) dos EUA. Durante o discurso de Trump, os republicanos da Câmara e do Senado o aplaudiram de pé, mas no dia seguinte se reuniram com Musk em particular para pedir que ele melhorasse sua comunicação com eles. Pouco depois, Trump disse aos membros de seu gabinete que queria que eles participassem mais ativamente dos cortes em vez de deixar o trabalho para Musk.

Os democratas veem Musk como um alvo importante porque sua popularidade despencou e ele está constantemente nos holofotes. Uma pesquisa do Washington Post-Ipsos, realizada em meados de fevereiro, mostrou que 34% dos adultos aprovam o trabalho de Musk, enquanto 49% desaprovam. Ele teve um desempenho 11 pontos pior que Trump, que teve 45% de aprovação e 53% de desaprovação.

Os ataques democratas a Musk se intensificaram à medida que ele usa seu poder para forçar funcionários federais a deixarem seus empregos. Agora, ele é visto como uma figura poderosa para motivar a base democrata à medida que o partido se prepara para as eleições legislativas de 2026. O líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, acusou os republicanos no mês passado de “trabalhar para Elon Musk e agir como marionetes de um bilionário não eleito, incontrolável e fora de controle”.

O senador Bernie Sanders tem colocado Musk no centro de sua crítica à agenda de Trump enquanto percorre o país para fortalecer os democratas. Em um comício realizado na sexta-feira, nos arredores de Kenosha, em Wisconsin, que reuniu milhares de pessoas, Sanders mencionou o nome do bilionário uma dúzia de vezes. “Neste exato momento, os oligarcas, liderados pelo senhor Musk, o homem mais rico da Terra, estão em guerra contra as famílias trabalhadoras do nosso país”, disse Sanders.

Enquanto isso, os republicanos disputam o apoio financeiro do America PAC de Musk.

“Ele tem muito dinheiro e pode financiar essas operações, e essas operações precisam de muito financiamento”, disse uma pessoa familiarizada com as operações do comitê de ação política (PAC), que falou sob condição de anonimato.

O embate em torno de Musk atinge um ponto crucial em Wisconsin, um estado que Trump venceu em 2016, perdeu em 2020 e reconquistou em 2024. Musk, que não respondeu a pedidos de comentário, está no centro da disputa à medida que seu PAC injeta milhões de dólares na corrida pela Suprema Corte estadual.

“Nunca vimos esse nível de interesse em uma eleição da Suprema Corte estadual vindo diretamente da Casa Branca”, disse Douglas Keith, do Brennan Center for Justice, da Universidade de Nova York.

A última eleição para a Suprema Corte de Wisconsin, em 2023, custou US$ 56 milhões —um recorde para qualquer eleição judicial nos EUA. Com mais de US$ 40 milhões gastos até agora, a eleição deste ano já é a segunda mais cara da história americana e pode igualar ou superar a anterior, segundo Keith.

Os democratas conquistaram uma maioria de um voto na Suprema Corte em 2023 e esperam mantê-la elegendo Susan Crawford, juíza de um condado e ex-advogada de sindicatos e da Planned Parenthood. Ela enfrenta Brad Schimel, também juiz e ex-procurador-geral republicano.

Musk entrou na disputa logo depois que sua empresa de carros elétricos, Tesla, processou o estado por uma lei que impede fabricantes de automóveis de possuírem concessionárias. O caso pode acabar chegando à Suprema Corte estadual.

Os eleitores de Wisconsin demonstram ceticismo em relação a Musk. Uma pesquisa da Faculdade de Direito da Universidade Marquette, realizada no final de fevereiro, mostrou que 41% o veem de forma positiva, enquanto 53% o enxergam negativamente. Entre os democratas, 97% têm uma visão negativa de Musk.

A pesquisa explica por que os democratas estão tão focados nele. Partidos políticos sempre buscam maneiras de mobilizar sua base em eleições de baixa participação, como a disputa judicial de Wisconsin. E os democratas acreditam que encontraram isso em Musk e suas tentativas de reestruturar o governo federal por meio do Doge, que não é uma agência de nível ministerial.

“Esta é a primeira grande eleição em que Musk está na cédula”, disse Ben Wikler, presidente do Partido Democrata de Wisconsin. “É uma mensagem extremamente motivadora”.

Musk foi o maior doador das eleições de 2024, investindo pelo menos US$ 288 milhões para ajudar a eleger Trump e outros republicanos. A maior parte de suas doações foi canalizada pelo America PAC, criado por ele e um grupo de conselheiros próximos na primavera passada, com o objetivo de impulsionar uma onda republicana.

O PAC enviou voluntários a estados decisivos para alcançar centenas de milhares de eleitores desengajados ou não registrados. Apesar de contratempos —incluindo a demissão de fornecedores-chave semanas antes da eleição—, o esforço de Musk foi considerado uma das campanhas mais eficazes para mobilizar eleitores a favor de Trump.

Agora, a disputa pela Suprema Corte de Wisconsin coloca Musk e George Soros em lados opostos. Soros doou US$ 1 milhão ao Partido Democrata estadual, que está financiando a campanha de Crawford.

“Musk é tão presente nessas campanhas quanto os próprios candidatos neste momento”, disse Barry Burden, professor de ciência política da Universidade de Wisconsin-Madison.

Dentro do círculo próximo de Trump, Musk foi apelidado de “Soros da direita”, um rótulo que ele adotou com entusiasmo. Ele tem usado o histórico de doações de Soros como modelo para desenvolver sua própria lista de alvos, incluindo os promotores distritais progressistas Larry Krasner (Filadélfia) e Alvin Bragg (Manhattan).

Os democratas temem que Musk se envolva na eleição de novembro para a Suprema Corte da Pensilvânia, onde três juízes progressistas buscam reeleição.

“Nós não o elegemos para estar lá, e ele não deveria ter voz em nada”, disse Nancy Kimmell, 67, enquanto aguardava o início da reunião em Sauk City.