Portugal se prepara para eleição após queda de Montenegro – 12/03/2025 – Mundo

O dia seguinte àquele em que a Assembleia da República “chumbou” o primeiro-ministro Luís Montenegro –para usar uma gíria comum em Portugal quando se fala em derrubar ou rejeitar algo– foi também o da largada de uma campanha eleitoral relâmpago.

O presidente Marcelo Rebelo de Sousa acena com as datas de 11 e 18 de maio para um novo pleito. No semi-parlamentarismo português, é o primeiro-ministro quem governa, mas cabe ao presidente intervir em momentos de crise –o que inclui marcar a data das eleições.

Nesta quarta-feira (12), Sousa recebeu em seu gabinete os líderes dos nove partidos com assento na Assembleia. As duas primeiras conversas foram justamente com Montenegro (Partido Social Democrata, de centro-direita) e com o principal rival na disputa por sua cadeira, Pedro Nuno Santos (Partido Socialista, de centro-esquerda).

Ambos defenderam eleições o quanto antes, se possível na primeira data aventada pelo presidente, exatos dois meses depois da sessão em que a moção de confiança apresentada por Montenegro foi rejeitada pelo Parlamento.

A campanha eleitoral começou no instante em que os dois líderes saíram do gabinete presidencial e falaram com a imprensa.

Montenegro elencou os números da economia. Portugal cresceu 2,5% no ano passado, segundo estimativa preliminar, acima da média da União Europeia; deverá ter superávit recorde nas contas públicas; a nota de risco do país foi elevada pela agência Standard & Poor’s no início deste ano; e o governo, com dinheiro em caixa, aumentou os salários de vários setores do funcionalismo.

No mesmo dia em que o governo caiu, a alemã Volkswagen, maior montadora da União Europeia, anunciou que vai produzir uma nova linha de carros elétricos em Palmela, município da área metropolitana de Lisboa –o que vai gerar novos empregos.

Como que respondendo ponto a ponto ao seu opositor, Pedro Nuno disse à saída do gabinete presidencial que o dinamismo econômico só foi possível porque o governo socialista de António Costa deixou as contas em ordem. Já há alguns meses o Partido Socialista espalhou outdoors pelo país defendendo que os aumentos salariais para o funcionalismo são mérito da sigla, e não de Montenegro.

Pedro Nuno tem batido na tecla de que os superávits vêm sendo obtidos à custa da falta de investimento nas áreas de saúde, educação e habitação. O dinamismo econômico não impede que os portugueses sofram com os aluguéis caros e a falta de médicos nos hospitais públicos.

Para além da economia, o tema que deverá predominar na campanha eleitoral será mesmo o da ética e da corrupção. Montenegro caiu em meio a acusações de conflito de interesses. A Spinumviva, empresa pertencente à sua família, tinha um contrato com a Solverde, proprietária de cassinos –em Portugal o jogo é concessão pública.

Nesta quarta, a Procuradoria Geral da República anunciou uma “averiguação preventiva” da Spinumviva. O procurador-geral, Amadeu Guerra, afirmou que a investigação, num primeiro momento, se basearia em documentos e relatórios públicos, sem convocar Montenegro para depor. “Dos elementos que recolhemos até agora não há fundamento para abrir qualquer inquérito”, disse Guerra ao jornal O Público.

Uma pesquisa do instituto Intercampus divulgada nesta quarta (12) mostra que o caso da Spinumviva começa, aos poucos, a corroer a imagem de Montenegro. Em uma escala de 0 a 5, ele recebeu uma nota 2,7. A pesquisa foi feita na semana seguinte ao feriado de Carnaval, quando as denúncias se intensificaram. Em janeiro, a nota de Montenegro era 3. O levantamento também apontou uma ligeira vantagem do PS em relação ao PSD nas intenções de voto, embora dentro da margem de erro –25% contra 23,5%.

O debate da terça (11) na Assembleia da República já havia deixado claro qual a estratégia dos dois principais partidos. O PSD falará predominantemente de economia, e o PS, de ética e corrupção.

Paralelamente às estratégias de campanha das duas siglas, a atuação do Ministério Público terá um papel decisivo no pleito. Se as investigações encontrarem fatos comprometedores que levem à abertura de um inquérito contra Montenegro, Pedro Nuno terá o caminho aberto para conseguir a cadeira de premiê.