O presidente do Equador, Daniel Noboa, anunciou nesta sexta-feira (7) um perdão preventivo para policiais e militares que atuam em uma região conturbada de Guayaquil, onde confrontos armados entre facções criminosas resultaram em pelo menos 22 mortos e três feridos na véspera.
“Todos os policiais e militares que atuaram e que serão enviados a Nueva Prosperina [em Guayaquil] já contam com o indulto presidencial”, afirmou Noboa em sua conta na rede social X. A medida foi tomada após a escalada da violência na região, onde um rigoroso estado de exceção está em vigor há dois meses e que abriga portos estratégicos utilizados no tráfico de cocaína para Estados Unidos e Europa.
A guerra de Noboa contra o crime organizado tem sido amplamente questionada por organizações de direitos humanos, que denunciam abusos, assassinatos e desaparecimentos forçados. No poder desde 2023 e buscando a reeleição, Noboa acrescentou que o governo precisa que as forças de segurança “ajam com determinação e sem temor a represálias”.
“Defendam o país, eu defendo vocês”, enfatizou.
Na quinta-feira (6), 22 pessoas morreram em três bairros da área de Nueva Prosperina, um dos pontos mais violentos da cidade. Os confrontos também deixaram pelo menos três feridos. Durante a operação policial, o Bloco de Segurança, criado pelo governo, realizou uma série de incursões que resultaram na prisão de 14 pessoas.
As facções criminosas Igualitos e Fénix, ambas originárias do grupo Los Tiguerones, se enfrentaram na disputa por territórios e poder, o que gerou o aumento no número de mortes. O chefe da polícia de Guayaquil, Pablo Dávila, afirmou que os criminosos conhecem uns aos outros e têm informações precisas sobre os alvos. As forças de segurança apreenderam uma dúzia de armas e mais de 2.000 munições.
O anúncio do indulto presidencial ocorre em um momento de alta tensão política. Noboa —que é herdeiro de uma das famílias mais ricas do país— está cumprindo um mandato-tampão para o qual foi eleito em 2023 em uma disputa com Luisa González.
A disputa daquele ano se repete agora. No primeiro turno das eleições, no mês passado, Noboa obteve 44,1% dos votos, enquanto sua oponente de esquerda teve 43,9%. Após a divulgação dos resultados acirrados, Noboa insinuou que houve irregularidades nas apurações, afirmando que a diferença de votos deveria ter sido maior.
A OEA (Organização dos Estados Americanos) e os observadores da União Europeia disseram não ter identificado nenhum indício de fraude.
Em 13 de abril, Noboa enfrentará novamente González em segundo turno polarizado.
A vice-presidente Verónica Abad, que ocupa o cargo desde a eleição de Noboa, também tem mantido embates públicos com o presidente desde 2023. Em fevereiro de 2025, ela declarou à Folha que o atual governo não é democrático. No final de fevereiro, a Justiça equatoriana suspendeu seus direitos políticos por dois anos, uma decisão que, caso confirmada, pode impedir Abad de se manter no cargo.
Desde que assumiu a Presidência, Noboa tem conduzido uma intensa batalha contra o crime organizado no país, com foco no combate ao narcotráfico. A violência relacionada a esses grupos levou o país a registrar uma taxa de homicídios de 38 por 100 mil habitantes em 2024, um aumento significativo em relação aos 6/100 mil registrados em 2018.
O Equador, com uma população de cerca de 18 milhões de habitantes, é responsável por 73% da cocaína produzida no mundo, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
No combate ao narcotráfico, há duas semanas Noboa solicitou apoio internacional, buscando a ajuda de forças especiais de países aliados para reforçar a luta contra as máfias internacionais. Além disso, ele propôs uma reforma constitucional que permitiria a instalação de bases militares estrangeiras no território equatoriano. “As máfias e o narcotráfico operam em redes internacionais, de modo que é preciso atuar juntos para combatê-los de forma mais efetiva”, disse em comunicado.