O governo de centro-direita da Grécia sobreviveu a um voto de confiança no Parlamento nesta sexta-feira (7) em meio a uma escalada de protestos que criticam a suposta omissão da gestão do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis após o pior acidente de trem da história do país.
O resultado era esperado, uma vez que o partido de Mitsotakis, o Nova Democracia, controla 156 dos 300 assentos do Legislativo. O premiê foi reeleito em 2023, após o desastre, e as próximas eleições estão marcadas para 2027.
Concluída a votação, Mitsotakis descartou antecipar o pleito, dizendo que, quando os gregos forem às urnas novamente, recompensarão a “boa gestão econômica” de seu partido. “Em 2027, os eleitores depositarão novamente sua confiança em nós”, afirmou.
Milhares de pessoas se reuniram no centro de Atenas durante a votação. Quanto Mitsotakis fez uso da palavra, três pessoas no Parlamento o interromperam, gritando “vergonha, vergonha” antes de serem expulsas do recinto. Do lado de fora da sede do Legislativo, manifestantes entraram em confronto com a polícia, jogando coquetéis molotov contra os agentes, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo.
Para tentar aplacar a crise, Mitsotakis prometeu modernizar a malha ferroviária até 2027 e disse apoiar uma mudança constitucional para remover a ampla imunidade concedida a políticos na Grécia.
Partidos políticos de esquerda tentavam derrubar o premiê e convocar novas eleições, dizendo que os protestos de rua em diversas cidades gregas mostravam que Mitsotakis perdeu seu mandato popular. Centenas de milhares de pessoas vão às ruas há semanas no país pedindo justiça para as 57 vítimas do desastre ferroviário.
Em fevereiro de 2023, um trem de passageiros e um trem de carga se chocaram na região de Tempi, a cerca de 300 km de Atenas. O acidente causou uma onde de revolta entre os gregos, que criticaram as condições obsoletas da infraestrutura ferroviária do país.
A causa oficial do desastre foi um erro humano cometido pelo chefe de estação da cidade de Larisa, que permitiu que os dois trens utilizassem a mesmo ferrovia em direções opostas ao mesmo tempo. Entretanto, mais tarde, foi revelado que o chefe de estação estava de plantão há cinco noites seguidas e estava sozinho no momento do acidente.
O sindicato dos condutores da Grécia emitiu uma nota na época dizendo que alertou o governo repetidas vezes que um acidente assim poderia acontecer e chamou a atenção para o fato de que o governo buscava restringir o direito da categoria de fazer greve.
Além disso, um relatório conduzido por um investigador contratado pelas famílias das vítimas chegou à conclusão que a explosão que seguiu ao descarrilhamento, responsável por agravar o desastre, foi causada pelo transporte ilegal de produtos químicos altamente inflamáveis pelo trem de carga —os itens não tinham sido declarados oficialmente. Esse relatório foi negado pelo governo, que disse que a explosão foi causada por óleo de silicone dos trens.
Foi a divulgação de um áudio em poder desse investigador que serviu de estopim para os protestos que paralisam o país hoje. Na gravação, dois passageiros ligam para os serviços de emergência e relatam não conseguir respirar —na opinião do investigador, prova de que havia produtos químicos tóxicos envolvidos na explosão.