O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve sua primeira reunião de gabinete deste mandato nesta quarta-feira (26), na Casa Branca. O momento, que contou com a presença do bilionário Elon Musk —aliado próximo do republicano—, marca um alinhamento geral de questões cruciais ao posicionamento americano tanto no âmbito nacional quanto no externo.
Entre as guerras do Oriente Médio e da Ucrânia, além de temáticas domésticas como o novo gold card, a dívida do país e os novos limites impostos à imprensa, a reunião refletiu o tom que o republicano tem dado a seu governo.
Veja abaixo os principais tópicos deste momento.
Guerra no Oriente Médio
Ao se referir à guerra no Oriente Médio, o republicano afirmou que a decisão sobre como prosseguir com o cessar-fogo em Gaza deve ser tomada por Israel. No pano de fundo dessa fala, além da instabilidade da primeira fase do cessar-fogo, está a proposta de Trump —endossada por Israel— de assumir o controle do território palestino e reconstruí-lo como a “Riviera do Oriente Médio” e, com isso, deslocar milhões de cidadãos locais.
Em contrapartida, Estados árabes avaliam um plano pós-guerra para combater a ideia do republicano. A proposta dos países da região, de responsabilidade principalmente egípcia, pode incluir até US$ 20 bilhões em financiamento ao longo de três anos.
Guerra da Ucrânia
Durante o encontro, Trump ainda afirmou que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, deve ir a Washington na sexta-feira (28) para assinar um acordo de minerais, mas sugeriu que os Estados Unidos não darão garantias de segurança de longo prazo, como espera o ucraniano.
O acordo, segundo o qual Kiev entregaria parte da receita de seus recursos minerais a um fundo controlado em conjunto pelos EUA, é essencial para as tentativas ucranianas de obter forte apoio de Trump enquanto ele busca um fim rápido para a guerra da Rússia —especialmente em um contexto em que as negociações entre EUA e Rússia, que até agora excluíram Kiev, estão programadas para continuar na quinta-feira.
Kiev busca garantias de segurança dos EUA como parte do acordo, apresentado por Trump como um pagamento pela ajuda dos EUA à Ucrânia durante a guerra. “Não vou dar garantias de segurança… Vamos deixar a Europa fazer isso”, disse Trump.
Ainda nas relações internacionais, Trump se recusou a comentar uma pergunta sobre se os EUA permitiriam que a China assumisse o controle de Taiwan pela força. “Eu nunca comento isso”, disse. “Eu nunca quero me colocar nessa posição.”
O republicano afirmou que pretende ter boas relações com a China, incluindo investimentos transfronteiriços, apesar da imposição de tarifas sobre produtos do país. Pequim nunca negou a possibilidade do uso da força para colocar Taiwan sob seu controle. Taiwan, por outro lado, opõe-se fortemente às reivindicações de soberania da China.
Os EUA há muito tempo dizem que não apoiam uma declaração formal de independência de Taiwan. No entanto, mantém relações não oficiais com a ilha autônoma e continua sendo seu principal patrocinador e fornecedor de armas, sob uma lei que exige que Washington forneça a Taiwan meios de se defender.
O governo americano tradicionalmente segue uma política de ambiguidade estratégica, sem deixar claro se responderiam militarmente a um possível ataque a Taiwan. O antecessor de Trump, Joe Biden, adotou uma abordagem diferente durante seu mandato, no entanto, ao dizer que as forças dos EUA defenderiam Taiwan caso a China atacasse o território.
Gold card
O presidente americano ainda retomou a ideia do gold card, que seu governo anunciou nesta terça. Segundo ele, a proposta —em que a permissão de residência americana pode ser comprada por US$ 5 milhões (cerca de R$ 29 milhões)— ajudaria o país a pagar sua dívida, ao mesmo tempo em que ofereceria às principais empresas uma maneira de atrair os melhores trabalhadores imigrantes. Trump afirmou que a venda deve começar em cerca de duas semanas.
O “Trump gold card” (cartão ouro de Trump) seria uma espécie de green card, a permissão para residência permanente nos EUA, e substituiria o chamado visto para investidores, que permite morar nos EUA ao investir pelo menos US$ 1 milhão (R$ 5,8 milhões) em uma empresa que tenha ao menos dez funcionários.
Imprensa cerceada
A primeira reunião de gabinete ainda marcou uma nova posição do governo americano em relação à cobertura de veículos de imprensa. A Casa Branca negou o acesso de repórteres da Reuters, do HuffPost e do jornal alemão Der Tagesspiegel, além de um fotógrafo da Associated Press, em um gesto de conformidade com a nova política.
Nesta terça (25), o governo anunciou que determinaria quais veículos de comunicação cobririam o presidente em espaços menores, como é o caso da reunião. A Associação de Correspondentes da Casa Branca (WHCA) tradicionalmente coordena a rotação do grupo de imprensa presidencial.
A secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que, embora as organizações de mídia tradicionais ainda tenham permissão para cobrir Trump no dia a dia, o governo planeja mudar quem participa nas ocasiões mais restritas. O sistema de pool, administrado pela WHCA, permitia que jornalistas selecionados de televisão, rádio, agência, imprensa e fotojornalistas cobrissem eventos e compartilhassem suas reportagens com a mídia externa.
Nesta quarta, equipes de TV da ABC e Newsmax, juntamente com correspondentes da Axios, Blaze, Bloomberg News e NPR foram autorizados a cobrir o evento.