No dia em que a Guerra da Ucrânia completou três anos, os Estados Unidos e aliados fizeram uma patrulha com um bombardeiro com capacidade de emprego de armas nucleares próximo das fronteiras da Rússia e de Belarus.
De quebra, o americano B-52 e pelo menos cinco dos caças holandeses e finlandeses que o escoltavam fizeram um sobrevoo em homenagem ao Dia Nacional da Estônia, desfilando nos céus da capital do país báltico, Tallinn.
A ação ocorreu nesta segunda (24) e estaria em consonância com a política de enfrentamento dos russos adotada pelos EUA desde o começo do conflito.
Só que Donald Trump promoveu uma guinada de aproximação com Vladimir Putin há duas semanas, excluindo Kiev e a Europa do início de negociações diretas com o Kremlin para tentar acabar com a guerra.
“Parece estranhamente distante do que a Casa Branca vem fazendo”, notou no X o analista Hans Kristensen, uma das maiores autoridades mundiais em armas nucleares. Enquanto os aviões voavam, Trump reafirmava sua disposição de negociar com Putin em encontro com o francês Emmanuel Macron.
Dois B-52 que estavam em missão no Oriente Médio haviam voado para a região do Báltico, vindos do Reino Unido, mas aparentemente apenas um de fato treinou.
Era o avião com número de série 60-0004, da base de Minot (Dakota do Norte, EUA). Ele é um dos 46 B-52 que ainda retêm a capacidade de disparar mísseis ou lançar bombas com ogivas nucleares da frota de 76 aviões do tipo dos americanos —os restantes só usam armas convencionais, para respeitar os limites do tratado Novo Start, ora congelado pela Rússia.
O sobrevoo de Tallinn, por sua vez, já havia ocorrido antes. O B-52 foi fotografado ao lado de um F-18 da Finlândia e de quatro F-35 holandeses, caças integrantes de um dos símbolos da política de defesa da aliança militar Otan para a Rússia até aqui.
Eles fazem parte da rotação atual do programa Policiamento Aéreo Báltico, segundo o qual nações do clube militar liderado pelos EUA se revezam na proteção dos céus locais. Os três Estados Bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia, não têm força aérea e, como ex-repúblicas soviéticas, se veem ameaçados diretamente por Moscou.
A missão existe desde 2004, quando os países da região foram admitidos na Otan. Putin invadiu a Ucrânia sob o pretexto de impedir que isso ocorresse no vizinho, expondo seu flanco oeste a forças da aliança —por fim, a entrada da Finlândia em 2023, devido à guerra, dobrou sua fronteira seca com o clube.
O treino ocorreu a menos de 100 km da fronteira russa, segundo sites de monitoramento de tráfego aéreo. Mas o B-52 fez uma manobra intimidadora no caminho de volta para o Reino Unido: voou primeiro para o sul, passando a 10 km do espaço aéreo da aliada da Rússia Belarus, sobrevoando o chamado corredor de Suwalki.
A região na fronteira lituano-polonesa é o caminho mais curto entre Belarus e Kaliningrado, o exclave russo junto ao mar Báltico. Nove em dez simulações de Terceira Guerra Mundial sugerem tropas russas tomando o local num ataque para cortar os Estados Bálticos do resto da Europa.
Ao longo da crise provocada pela guerra, interceptações e patrulhas de lado a lado se multiplicaram no Báltico. O rompimento de cabos submarinos de energia e dados no mar levou a Otan a estabelecer uma missão específica, de olho no que dizem ser ação de russos e chineses, negadas por ambos.