O Vaticano informou nesta segunda-feira (24) que o Papa Francisco continua se recuperando, mas desde o início deste mês, o pontífice apresenta quadros de saúde que incluem infecções, necessidade de transfusões sanguíneas e também insuficiência renal.
Ainda nesta segunda (24), um novo boletim médico da Igreja afirma que o problema nos rins “não é preocupante”.
Para especialistas ouvidos pela Folha, as condições são conectadas e formam um cenário delicado, em especial entre idosos como Francisco, com 88 anos de idade.
A infecção polimicrobiana foi diagnosticada após uma internação do papa, no último dia 14, por sintomas de bronquite. Os exames seguintes constaram a múltipla infecção, um termo amplo, que pode ser causada por fungos, bactérias ou vírus.
Embora o Vaticano não tenha detalhado o agente causador, ela é comumente mista, atuando com vários agentes bacterianos ao mesmo tempo.
Em idosos, infecções virais respiratórias —como a influenza, vírus sincicial respiratório ou Covid— podem levar a estas infecções, já que o sistema imunológico enfraquece com os anos, gerando a chamada imunossenescência, que torna-se mais comum após os 60 anos de idade.
Segundo a pneumologista Fernanda Aguiar, diretora da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), a infecção gera inflamações que podem não se restringir às vias respiratórias e provocar um quadro sistêmico, se propagando em outras regiões do corpo. Assim, também podendo atingir as funções renais.
“Isso, em geral, denota uma infecção mais severa”, afirma a especialista. Outra hipótese é que a própria medicação usada contra a infecção possa ter sobrecarregado os rins do papa, segundo a médica.
Já a transfusão de plaquetas também pode estar relacionada a um quadro sistêmico, quando a resposta inflamatória do corpo para conter a infecção foi intensa, afirma David Machado, coordenador de nevrologia da Rede D’Or ABC.
“Infecções graves, como a do papa, reduzem a produção de plaquetas pela medula óssea, reduzindo o número delas no sangue e determinando risco de sangramentos, motivo pelo qual a transfusão é realizada”, afirma.
Francisco também tem comorbidades prévias. Na juventude, uma tuberculose o forçou a passar por uma cirurgia para remoção de parte de um pulmão. Em 2023, ele também já havia sido hospitalizado após uma bronquite.
Somado à questão renal e à idade, o quadro torna-se ainda mais complexo. “Idosos têm menor taxa de funcionamento renal pelo próprio processo de envelhecimento”, acrescenta Machado.
Apesar de ter mantido transparência sobre o assunto, a Igreja não detalha a doença específica causada pela infecção polimicrobiana. O exame para detectá-la pode ser feito por swab, como na Covid, ou a partir do escarro.