Eleição na Alemanha tem muitos receios e algum otimismo – 23/02/2025 – Mundo

A aguardada eleição parlamentar alemã começou neste domingo (23) em Berlim com alto comparecimento. Vários distritos registravam a presença de 33% dos 2,4 milhões de eleitores registrados até as 12h locais (8h, no horário de Brasília), contra 25% do último pleito, em 2021. O voto na Alemanha não é obrigatório.

No pleito que define a 21ª legislatura do país no pós-guerra, a extrema direita deve alcançar seu melhor resultado em 90 anos. Pesquisas apontam até 20% de votos na AfD (Alternativa para a Alemanha), legenda com integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo. O partido defende uma agenda radical contra imigrantes e a saída da Alemanha da União Europeia, entre outras bandeiras populistas.

O país vive uma crise política e econômica, pontuada por episódios de violência e interferências externas. Friedrich Merz, da CDU, é apontado como o próximo primeiro-ministro, mas a ascensão dos extremistas e de sua candidata, Alice Weidel, é o que mais chama a atenção neste momento.

“Vejo com algum otimismo que pelo menos estamos nos envolvendo na política”, afirma Rupert Mannasicht, na saída de sua seção eleitoral, em uma escola no bairro de Hansaviertel. “Há uma série de questões que precisam ser enfrentadas pelo governo, como nossa lenta burocracia. Precisamos melhorar a competitividade do país”, diz o engenheiro de software.

A preocupação com a ascensão da extrema direita é relativizada. “Faz parte de uma discussão importante, se vamos construir muros ou procurar encontrar uma nova identidade nacional. Infelizmente, há muita gente à procura de respostas simples para perguntas difíceis. Por isso é tão importante conversarmos uns com os outros.”

A discussão sobre essa nova identidade nacional também preocupa Janit Sumitomo. “Quando cheguei o país tinha orgulho de si próprio, autoestima. O novo governo precisa olhar para isso. Não é apenas a questão econômica”, diz a imigrante da Indonésia, há 12 anos morando em Berlim. Cerca de 15% da população alemã é composta por imigrantes.

Os recentes episódios de violência protagonizados por estrangeiros podem ter alguma influência na votação, mas não significam um voto direto no populismo, em sua opinião. “É claro que causa preocupação, mas acho que é preciso também acolher melhor essas pessoas. Haverá mais controle, parece claro, mas não consigo imaginar uma Alemanha menos solidária a partir de agora.”

“Não sei o que vai acontecer, mas creio que muitos estão preocupados com as coisas erradas. O custo da energia é um problema muito maior que o controle imigratório”, diz Xavier Kullmann, que trabalha com comércio eletrônico. A Alemanha experimenta estagnação econômica há dois anos, e a questão energética é um dos desafios do próximo governo.

A um custo muito alto, o país modificou sua matriz energética após a invasão da Ucrânia, que completa três anos nesta segunda-feira (24). A dependência do gás russo, assim como a aposta em uma economia voltada exclusivamente para exportação, é legado do governo Angela Merkel (2005-2021), que, segundo críticos, deixou a Alemanha em situação frágil.

Merz, rival da ex-primeira-ministra dentro da CDU, promete um choque de modernização, com menos burocracia e mais digitalização e transição energética mais amigável aos consumidores. Sua recente ofensiva anti-imigratória, quando aceitou votos da AfD para tentar aprovar legislação de controle de fronteiras, provocou protestos por todo país.

Eles ocorrem também neste dia de eleição. Ativistas do grupo ambiental Fridays for Future (sextas-feiras para o futuro) registraram na polícia a intenção de comparecer à frente da sede da CDU, no centro de Berlim. O grupo seguiria depois para o escritório do SPD, o partido do atual primeiro-ministro, Olaf Scholz.

O slogan da manifestação é “Campanha eleitoral encerrada, a crise climática permanece”. A questão ambiental continua prioritária para o eleitorado alemão, mas foi obliterada pelas questões econômica e migratória durante a maior parte da campanha eleitoral.