Eleição na Alemanha: veja principais propostas de partidos – 22/02/2025 – Mundo

Os alemães vão às urnas neste domingo (23) decidir que rumo seu país vai tomar em uma Europa (e um mundo) cada vez mais impactada pelas alterações radicais na política internacional trazidas pela chegada de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

Mas a Guerra da Ucrânia não é o único tema que move os eleitores da principal economia europeia. Além do cenário internacional, pesquisas de opinião apontam que as áreas que mais preocupam o eleitorado incluem imigração, custo de vida, criminalidade e mudança climática.

Para atrair eleitores, partidos da esquerda à extrema direita fazem promessas que variam de aumentar deportações e estabelecer rígida fiscalização nas fronteiras a abandonar a União Europeia e a zona do euro, passando por aumentos no salário mínimo, cortes de impostos, fim do teto de gastos e limitação do preço de aluguéis.

Veja abaixo as propostas dos partidos que, de acordo com pesquisas de opinião, devem ultrapassar a cláusula de barreira de 5% e ocupar assentos no Parlamento.

CDU (centro-direita)

A União Democrata Cristã tem no acirramento do combate à imigração sua principal bandeira. A estratégia do candidato Friedrich Merz, favorito a virar primeiro-ministro, é tentar tirar votos do partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) se apresentando como a opção democrática para o eleitor preocupado com a questão —quase 44% da população diz que essa é sua maior preocupação, de acordo com uma pesquisa Ipsos divulgada no início do mês.

A CDU propõe restringir benefícios e transferências de renda a migrantes e pessoas que pedem asilo à Alemanha, reduzindo a “pão, água e sabão” a assistência aos que receberam uma ordem de deixar o país —ou cortando totalmente o benefício “quando a lei permitir”.

Para aqueles com direito a asilo, o partido quer acabar com a permissão para que tragam suas famílias. Também propõe encerrar o programa de “proteção subsidiária” —ele permite que pessoas que normalmente não teriam direito a asilo apresentem razões gerais, como guerras ou catástrofes, que justifiquem sua permanência na Alemanha.

A sigla promete ainda uma devassa nos cadastros de refugiados para deportar aqueles que não têm mais direito de estar no país, além de criar “centrais federais de deportação” e aumentar o envio de cidadãos sírios e afegãos —países que, até aqui, eram considerados perigosos demais para que houvesse deportações.

Nas fronteiras do país, que está no centro da União Europeia, o partido conservador quer recusar a entrada de migrantes e de pessoas que pedem asilo, uma proposta que outras siglas dizem que é incompatível com a lei do bloco. Também promete investir em tecnologias como drones, câmeras de visão noturna e térmica e outros equipamentos de ponta para impedir entradas clandestinas.

Para a economia, a CDU não alterou sua cartilha de décadas: reduzir impostos, incluindo dos mais ricos, e cortar gastos para controlar o crescimento da dívida pública, sem alterações no rígido teto de gastos alemão, em vigor há mais de dez anos.

Na política externa, o partido, assim como os Verdes e o SPD, é a favor de expandir as Forças Armadas alemãs e aumentar o gasto militar para conter a Rússia, além de permanecer na União Europeia.

SPD (centro-esquerda)

O partido do primeiro-ministro Olaf Scholz, por sua vez, aposta em promessas econômicas para ampliar sua fatia do eleitorado, incluindo reformar o teto de gastos para permitir mais investimentos. “A lógica do ‘ou isso ou aquilo’ não pode mais perdurar quando o assunto é investimentos no mercado de trabalho, no bem-estar social e na segurança”, diz o plano de governo dos social-democratas.

O carro-chefe do programa é a proposta de aumentar o salário mínimo para € 15 por hora a partir de 2026 —o que equivaleria, no regime de trabalho alemão de 40 horas semanais, a € 2.400, ou cerca de R$ 14 mil. Hoje, o valor se encontra em quase € 13 por hora, resultando em pouco mais de € 2.000 por mês no regime de trabalho mais comum.

Para combater a alta do custo de vida, o partido governista quer aumentar a aposentadoria até, em média, metade do salário do trabalhador, diminuir impostos para os mais pobres e aumentar as contribuições dos mais ricos, cortar tributos que incidem sobre alimentos, e investir em produção de energia limpa para baixar o preço da conta de luz.

No combate à mudança climática, o SPD fala em subsidiar a compra de carros elétricos, expandir a malha ferroviária da Alemanha, obsoleta depois de anos sem investimentos, e derrubar emissões de gases do efeito estufa para atingir a neutralidade climática “em concordância com as metas da União Europeia” —linguagem considerada pouco ambiciosa por críticos do partido.

O programa inclui também objetivos históricos da sigla, como a expansão do sistema público de saúde e descriminalizar de forma definitiva o aborto no país —hoje, a prática é crime, mas não acarreta pena quando realizada nas primeiras semanas de gestação e após o chamado “aconselhamento médico”. Ainda assim, há mais barreiras do que em outros países europeus.

Na imigração, entretanto, o SPD deu uma guinada à direita: antes favorável ao acolhimento de refugiados, agora coloca como prioridade acelerar processos de asilo e aumentar o número de deportações.

Os Verdes (centro-esquerda)

A sigla ambientalista faz campanha apoiada na popularidade de seu candidato a premiê, o hoje vice-primeiro-ministro Robert Habeck, um dos políticos mais bem-vistos do país pelo eleitor. A mensagem de Habeck e dos Verdes é “renovar a Alemanha”, apostando em uma economia verde e líder em energia renovável.

O partido defende manter o bilhete único nacional, uma iniciativa do governo que permite o uso de transporte público e regional sobre trilhos em todo o país pagando € 49 por mês, reformar o teto de gastos, ampliar o sistema de creches e escolas públicas da Alemanha, e fortalecer o sistema de saúde.

Na política externa, que esteve sob comando do partido, representado pela ministra Annalena Baerbock, no governo Olaf Scholz, os Verdes prometem combater “os ataques de Vladimir Putin, as ambições de Xi Jinping e o isolacionismo de Donald Trump”. Posiciona-se também a favor de aumentar os gastos da Alemanha com suas Forças Armadas, um movimento que já teve início no governo atual.

A Esquerda (esquerda)

Até aqui, o partido mais à esquerda entre os representados no Parlamento alemão corria o risco de não conseguir ultrapassar a cláusula de barreira e ficar para trás na corrida eleitoral. Nas duas semanas anteriores ao pleito, entretanto, A Esquerda se descolou dos outros partidos menores e deve conseguir ocupar assentos no Bundestag —a depender do tamanho da surpresa das urnas, pode inclusive acabar como parte de um governo liderado pelo SPD.

A mensagem principal do partido de esquerda é aumentar os impostos sobre os mais ricos, principalmente bilionários, que passariam a pagar um imposto de 12% ao ano sobre fortunas que ultrapassem um € 1 bilhão.

Com a arrecadação, o partido financiaria medidas como como um teto nacional para aluguéis, fim dos impostos sobre alimentos e transporte público, subsídios de energia e gás e aumento de benefícios para famílias com crianças pequenas, entre outras.

Para investimentos mais robustos, como a completa reconstrução da matriz energética alemã sem uso de combustíveis fósseis, o partido propõe abolir por completo o teto de gastos do país, que chama de “teto de investimentos” e classifica de medida responsável pela precarização de serviços públicos.

AfD (extrema direita)

Oficialmente monitorado como uma organização extremista em três estados da Alemanha, o partido da candidata a primeira-ministra Alice Weidel se encontra em segundo lugar nas pesquisas eleitorais. Um acordo tácito dos partidos do campo democrático, que prometem jamais formar governo com a sigla extremista, impede que a AfD chegue ao poder na Alemanha —por enquanto.

Como era de se esperar, a principal bandeira do partido é a imigração. A AfD quer realizar deportações em massa de todos os imigrantes em situação irregular, em especial refugiados que venham de países como Afeganistão e Síria.

Propõe ainda retirar a Alemanha dos acordos da ONU sobre asilo e migração, restringindo o máximo possível o direito a asilo, e fala em exigir que migrantes tenham seus pedidos julgados fora da Alemanha. O partido quer o fim da “proteção subsidiária”, a fiscalização permanente e constante das fronteiras alemãs, o fim dos benefícios financeiros a estrangeiros, e a retirada da permissão para trabalhar de imigrantes em situação irregular.

O partido propõe também o fim do euro, a saída do país da União Europeia, que descreve como “super-Estado de economia planificada”, e do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. A sigla descreve o consenso entre cientistas sobre o papel da ação humana na crise do clima como uma “construção política”.

A AfD promete ainda voltar a criminalizar o aborto na Alemanha, com exceções apenas para casos de estupro ou risco para a vida da mãe, como acontece no Brasil.