Entrega dos corpos dos Bibas deixa israelenses desolados – 20/02/2025 – Mundo

Mesmo após o Hamas anunciar, na terça-feira (18), que devolveria os corpos da refém Shiri Bibas e de seus dois filhos pequenos, Kfir e Ariel, a cunhada da israelense disse que não havia perdido a esperança de vê-los voltar para casa vivos.

“Peço que não me enviem mensagens de solidariedade fúnebre à minha família ainda”, escreveu Ofri Bibas em seu perfil no Facebook. “Estamos esperando há 16 meses e não vamos perder a esperança agora.”

Quando o Hamas revelou, em um palco instalado no sul de Gaza sob um céu cinzento, caixões pretos com as fotos das duas crianças e a mãe delas, a esperança no Estado judeu se transformou em luto.

Para os israelenses, Shiri Bibas e seus filhos se tornaram símbolos da brutalidade dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, quando a família foi sequestrada por membros do Hamas em Nir Oz e levada para Gaza.

Um em cada quatro residentes do kibutz foi morto ou feito refém naquele dia. Poucas horas após o sequestro, imagens de Shiri cercada por homens armados e segurando seus filhos, que tinham oito meses e meio e quatro anos de idade à época do atentado, tomaram as redes sociais.

Pessoas carregando bandeiras israelenses alinharam-se na estrada 232, perto da fronteira com Gaza, para prestar homenagem enquanto um comboio transportava os corpos para o instituto forense de Israel para identificação e provável anúncio formal da morte.

“Todos esperávamos que essa história terminasse de forma diferente. Isso é tão triste e doloroso”, disse Noan Zuntz, de um kibutz próximo.

A poucos quilômetros de distância, em Nir Oz, triciclos e brinquedos ainda estavam espalhados no gramado em frente à casa dos Bibas, enquanto a porta da frente, perfurada por balas, carregava cartazes dos quatro membros da família sorrindo.

O marido de Shiri, Yarden Bibas, também capturado no kibutz, foi levado separadamente da família. Ele foi libertado no dia 1º de fevereiro como parte do cessar-fogo entre Israel e Hamas que entrou em vigor há pouco mais de um mês.

A maioria das mulheres e crianças entre os 251 sequestrados no ataque liderado pelo Hamas foram libertados em um acordo de troca por prisioneiros e detidos palestinos, mulheres e menores de idade, em uma breve trégua no final de novembro de 2023.

Mas eles não incluíam Shiri e as crianças. Na época, o Hamas disse, sem apresentar provas, que eles haviam sido mortos em um ataque aéreo israelense. Ao longo dos últimos meses, Tel Aviv disse não ter conseguido verificar a afirmação.

Há um ano, o Exército israelense recuperou um vídeo deles vivos em Gaza no dia do sequestro e, nos meses que se seguiram, disse apenas que havia uma preocupação séria com suas vidas, sem incluí-los entre os 36 reféns declarados mortos com base em inteligência e perícia.

No dia 30 de novembro de 2023, o Hamas divulgou um vídeo de Yarden em cativeiro implorando ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, para levar os corpos de seus familiares de volta para casa. Após sua libertação, Yarden insinuou em uma carta à imprensa que suas declarações naquele vídeo haviam sido ditadas, mas repetiu o pedido ao premiê.

“Minha luz ainda está lá, e, enquanto eles estiverem lá, tudo aqui está escuro”, disse ele. Sua irmã, Ofri, disse que Yarden vinha se agarrando à esperança de que o Hamas houvesse mentido para ele sobre o destino de sua família.

No final da quarta-feira (19), sua família mais uma vez pediu para evitar mensagens de apoio até que a identificação forense seja concluída. Alguns em Nir Oz ainda se agarravam à esperança de um milagre. “Até termos o fato, mortos ou vivos, temos esperança”, disse Yiftach Cohen, em frente à casa da família Bibas.

Em Tel Aviv, israelenses se reuniram no que passou a ser conhecido como praça dos Reféns, em frente à sede da Defesa de Israel, enquanto a tristeza se espalhava pelo país.

“Acho que hoje é um dos dias mais tristes dos meus 40 anos em Israel”, disse Nicky Cregor, 60, assistente social de Jerusalém. “Sinto que temos uma ferida interminável em nossos corações que vai demorar muito para cicatrizar.”