CIA expande voos secretos de drones no México por drogas – 19/02/2025 – Mundo

Os Estados Unidos intensificaram voos secretos de drones sobre o México para caçar laboratórios de fentanil como parte da campanha mais agressiva do governo de Donald Trump contra os cartéis de drogas, de acordo com autoridades do país consultadas pelo jornal americano The New York Times.

O programa secreto, que não havia sido divulgado anteriormente, começou sob a Presidência de Joe Biden, segundo autoridades americanas e outras pessoas familiarizadas com o projeto. Mas Trump e seu diretor da CIA (Agência de Inteligência dos EUA), John Ratcliffe, prometeram diversas vezes ações mais intensas contra os cartéis de drogas mexicanos. Aumentar os voos de drones foi um passo inicial rápido.

Autoridades dizem que a CIA não foi autorizada a usar os drones para ações letais e que os equipamentos não serão usados para realizar ataques aéreos. Por enquanto, funcionários da agência de inteligência no México repassam informações coletadas pelos drones aos mexicanos.

O governo do país latino-americano já havia tomado medidas para aplacar as preocupações de Trump sobre o fentanil ao enviar 10 mil militares de sua tropa para a fronteira neste mês para impedir o contrabando. O presidente americano, porém, quer que o México faça mais para destruir ou desmantelar esses laboratórios e apreender mais da droga.

Os drones se mostraram eficazes na identificação de laboratórios, de acordo com pessoas com conhecimento do programa. Os espaços de produção de fentanil emitem produtos químicos que permitem sua localização do ar.

No entanto, durante a gestão Biden, o governo mexicano foi lento para agir contra os laboratórios identificados pelos americanos, embora tenha usado as informações para fazer prisões, de acordo com dois dos funcionários consultados pelo jornal.

As autoridades falaram sob condição de anonimato para discutir o programa de inteligência secreto e a diplomacia entre México e EUA.

Os voos de vigilância já causaram consternação no país da América Latina, que há muito desconfia de seu vizinho do norte após várias invasões e apropriações de terras.

Quando questionada sobre o programa de vigilância por drones durante entrevista coletiva nesta terça-feira (18), a presidente do México, Claudia Sheinbaum, minimizou a iniciativa e a colocou como parte da cooperação de longa data do país com as forças dos EUA. “É parte desta pequena campanha”, disse.

Além dos esforços da CIA, o Comando Norte do Exército dos EUA também está expandindo sua vigilância na fronteira —mas o Exército americano, ao contrário da agência de espionagem, não está entrando no espaço aéreo do México.

Até agora, o Comando Norte, que coordena a defesa do território americano, realizou mais de duas dezenas de voos de vigilância sobre a fronteira sul usando uma variedade de aeronaves de vigilância, incluindo U-2s, RC-135 Rivet Joints, P-8s e drones, disse um militar sênior dos EUA, que falou sob condição de anonimato para discutir assuntos operacionais.

O Exército também criou uma força-tarefa de inteligência especial de 140 analistas, localizada perto da fronteira, para analisar as informações coletadas pelos voos de vigilância e outras fontes, disse o Comando Norte em um comunicado deste mês.

O general Gregory Guillot, chefe da unidade militar, disse ao Senado na semana passada que os analistas estão fornecendo inteligência que “ataca as redes de cartel que impulsionam a produção e distribuição de fentanil e a levam através da fronteira”.

Em resposta a perguntas de legisladores, Guillot disse que a inteligência foi compartilhada com autoridades mexicanas para ajudá-las a “abordar a violência do cartel em termos de enviar mais tropas”. Ele disse que seu comando aumentou a coleta de inteligência para fazer “progressos rápidos contra essa ameaça”.

Questionados sobre os comentários de Guillot, Sheinbaum disse que a soberania mexicana “não é negociável” e que o país sempre vai coordenar as ações sem subordinação. Autoridades da Casa Branca, da CIA e do Pentágono se recusaram a comentar sobre o programa de inteligência secreta.

Trump assinou um decreto em 20 de janeiro pedindo uma repressão aos principais cartéis. Esta semana, seu governo planeja designar meia dúzia de cartéis e grupos criminosos no México como organizações terroristas estrangeiras.

A classificação dá ao governo dos EUA amplos poderes para impor sanções econômicas a grupos e entidades ligadas a eles. Os cartéis, no entanto, já estão sob pesadas sanções do governo dos EUA, e uma designação de terrorista estrangeiro não forneceria novas ferramentas significativas para bloquear suas manobras financeiras, de acordo com ex-funcionários dos EUA que trabalharam nessas questões.

Embora as sanções não sejam necessárias para a intensificação da coleta de inteligência pela CIA, vários ex-funcionários disseram que a designação foi um passo simbólico importante que poderia, eventualmente, ser seguido por operações maiores do Exército ou de agências de inteligência dos EUA.

O 7º Grupo de Forças Especiais do Exército dos EUA iniciou um exercício de treinamento no México neste mês. O major Russell Gordon, porta-voz do 1º Comando de Forças Especiais, disse que o treinamento com a infantaria de Marinha mexicana foi planejado antecipadamente e faz parte da “cooperação de defesa de longa data entre EUA e México”.

Ainda assim, ex-funcionários disseram acreditar que as forças armadas e agências de inteligência dos EUA provavelmente aumentarão o treinamento com autoridades mexicanas nos próximos meses.

Realizar um ataque aéreo em laboratórios de fentanil provavelmente causaria fatalidades catastróficas, já que eles estão frequentemente dentro de residências em áreas urbanas, disse uma pessoa familiarizada com o programa, provavelmente contribuindo para a relutância em autorizar o uso de força letal.

A possibilidade de violência também existe se as forças armadas ou a polícia mexicana agirem contra o laboratório. O objetivo de fornecer inteligência às autoridades mexicanas, porém, não é matar membros de cartéis, mas desativar os laboratórios, de acordo com autoridades dos EUA.

Se a cooperação e o compartilhamento de inteligência não levarem à destruição dos laboratórios, o governo Trump sinalizou que está considerando medidas alternativas.


Julian E. Barnes
, Maria Abi-Habib
, Edward Wong
e Eric Schmitt