Embaixada com opositores na Venezuela fica sem luz – 18/02/2025 – Mundo

O gerador que alimenta a embaixada da Argentina na Venezuela, onde cinco críticos da ditadura estão há 11 meses, colapsou na madrugada desta terça-feira (18), afirmaram os exilados. Interlocutores do Itamaraty confirmaram à Folha que o equipamento quebrou.

“Os cinco exilados no complexo diplomático denunciam que permanecem sem luz, sem água e sem conectividade”, disse o Comando Con Venezuela, plataforma da principal candidatura da oposição nas eleições do ano passado, em uma nota divulgada nas redes sociais. “Isso ocorre apenas três dias depois da denúncia pública que eles fizeram nessa sede diplomática sobre o cerco ao qual o regime de Nicolás Maduro os submete.”

O local está sob proteção do Brasil desde 5 de agosto, quando a ditadura chavista expulsou de sua capital os diplomatas de Buenos Aires. A retaliação da ditadura, aplicada a diversas outras nações, ocorreu após o presidente Javier Milei contestar o anúncio da reeleição de Maduro —nunca comprovada pelo regime de acordo com as próprias leis venezuelanas.

Segundo a nota do Comando Con Venezuela, o gerador estava funcionando em esquema de racionamento nos últimos três meses, desde quando os fusíveis do prédio foram tomados em um ato de sabotagem, de acordo com o grupo. A situação, dizem os opositores, é de emergência.

“Desse gerador depende a conservação dos alimentos que, com severas restrições, permitiram que fossem levados para dentro do prédio, assim como a água potável”, diz a plataforma, segundo a qual a embaixada é alimentada com apenas 2.000 litros de água a cada 13 dias. “Da mesma forma, isso afeta a conectividade dos exilados, agora isolados do exterior.”

Na semana passada, interlocutores diplomáticos já haviam confirmado à Folha que a Venezuela tinha limitado o tempo de abastecimento com caminhões-pipa à residência. Na sexta-feira (14), os asilados disseram estar sem o recurso, já que o último abastecimento havia ocorrido apenas dez dias antes.

A ditadura nega que autoridades estejam sitiando a embaixada da Argentina em Caracas e afirma que os cortes decorrem de uma suposta falta de pagamento.

“Que paguem a luz, que paguem os serviços, nós não vamos dar nada de graça”, afirmou o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, em novembro do ano passado, quando o governo Milei denunciou “atos de assédio e intimidação” no local.

As acusações ocorrem em meio ao aumento da repressão do regime após as eleições de agosto do ano passado, às quais se seguiram protestos que questionavam a legitimidade dos resultados. A ditadura afirma que Maduro venceu a eleição com 52% dos votos, contra 43% de Edmundo González, que representou a oposição e, por sua vez, reivindica a vitória para si.

A controvérsia poderia ser resolvida se o regime tornasse públicas as atas eleitorais, documentos em que são registrados os resultados de cada uma das seções eleitorais do território —como fez a oposição. Elas permitiriam que fiscais indicados pelos partidos cruzassem o número total de votos computados no pleito com a quantidade de votos recebida pelos candidatos em cada uma das seções.

A despeito das incertezas que rondaram o processo e da ampla rejeição da comunidade internacional, Maduro tomou posse para mais um mandato de seis anos no último dia 10 de janeiro.