Propaganda de guerra de Israel associou Gaza a turismo – 09/02/2025 – Mundo

Amplamente repudiada por implicar o deslocamento forçado de milhões de palestinos, o que constituiria um crime de guerra, a proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de transformar a Faixa de Gaza em uma “Riviera do Oriente Médio” já tinha sido ventilada em uma entrevista em outubro passado. Na ocasião, o republicano disse a uma rádio que o território palestino poderia ser “melhor do que Mônaco”, principado europeu famoso pelos cassinos e hotéis luxuosos.

Veículos da imprensa americana dizem que a ideia partiu do genro do presidente, Jared Kushner, enviado especial para o Oriente Médio no seu primeiro mandato. Casado com Ivanka Trump e herdeiro de uma empresa de administração de imóveis, ele uma vez descreveu o conflito árabe-israelense como “nada mais do que uma disputa imobiliária entre israelenses e palestinos”. Depois, em um encontro em Harvard em fevereiro de 2024, disse que propriedades na “orla de Gaza poderiam ser muito valiosas”.

Pouco antes desse evento, o suposto potencial do território para o lazer também tinha sido abordado em um comercial veiculado na plataforma de streaming americana Hulu no início da guerra. A peça foi retirada do ar após críticas de internautas.

No vídeo, cenas aparentemente criadas por inteligência artificial (IA) mostram hotéis, praias e famílias se divertindo, como é típico em publicidade turística. O narrador convida os espectadores a “visitar a bela Gaza” onde, ele diz, as praias são deslumbrantes e os calçadões, cheios de charme, a cozinha é a melhor da região, a vida noturna é vibrante e a cultura, rica em tradições.

A sequência é então interrompida por imagens de palestinos portando armas e caminhando por túneis. “É assim que Gaza poderia ter sido sem o Hamas. Libertem Gaza do Hamas agora”, conclui o narrador.

O governo israelense não confirmou que foi o responsável pela produção do vídeo à imprensa americana na época. O vídeo segue, porém, disponível em um canal oficial de Israel no YouTube.

No mesmo período, apoiadores de Israel na guerra contra o grupo terrorista palestino frequentemente compartilhavam imagens fictícias de condomínios à beira-mar na costa da faixa.

Segundo autoridades de saúde de Gaza, ligadas ao Hamas, mais de 47 mil palestinos morreram devido aos enfrentamentos. A estimativa é endossada pela ONU, mas contestada por Israel, que perdeu cerca de 1.200 cidadãos no ataque terrorista que deu início ao conflito.

A população do território cresceu desproporcionalmente quando o Estado de Israel foi criado, em 1948. A área se tornou um dos principais refúgios dos cerca de 700 mil palestinos expulsos de outras terras que hoje pertencem aos israelenses, num evento que os locais chamam de Nakba, palavra em árabe para catástrofe.

A sequência de dominações a que a faixa foi submetida de lá até o início da implementação dos Acordos de Oslo, em 1994, dificultou o seu desenvolvimento, especialmente pela falta de infraestrutura. O território chegou, no entanto, a abrigar empreendimentos turísticos em diversos momentos de sua história, israelenses inclusive.

A instabilidade local afastou progressivamente os estrangeiros, algo reforçado pelo cerco de Tel Aviv depois que o Hamas passou a controlá-la, em 2007.

Decorridos 15 meses de combates, em pausa devido a um acordo de cessar-fogo vigente desde o início do ano, a maior parte de Gaza está destruída. Estimativas de custos de reconstrução chegam a US$ 100 bilhões.