Apuração no Equador indica provável 2º turno entre Noboa e pupila de Correa – 09/02/2025 – Mundo

A maratona eleitoral do Equador ao longo dos últimos quatro anos não deve ter pausa neste domingo (9). Pelo que indica o andamento da apuração oficial, o país irá a segundo turno em abril entre o atual presidente, Daniel Noboa, e Luisa González, de esquerda.

Com 35% da apuração concluída, Noboa, o herdeiro do império das bananas (seu pai é um bilionário dono da empresa “Bonita Banana”) está na dianteira, com 45,6%. Em segundo, González, com 43%. A eleição contava com 16 candidatos, mas apenas os dois eram expressivos. Os equatorianos também elegeram 151 legisladores.

Será uma disputa que sobrepõe esses nomes. O pleito mostrará qual percepção social ganha: o “anti-noboismo” ou o “anti-correísmo”. O primeiro refere-se à oposição a Noboa. Já o segundo, à oposição ao padrinho político de González, o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), um dos nomes mais polarizadores do país.

Será ainda um “revival” de 2023, quando a mesma dupla disputou o segundo turno em eleições atípicas, convocadas de maneira antecipada após o então presidente Guillermo Lasso, investigado por corrupção, colocar fim a seu governo por meio de uma figura jurídica inédita, a “morte cruzada”. Noboa ganhou daquela vez e é favorito nesta.

A participação eleitoral foi de 83,4% no país onde o voto é obrigatório para cidadãos que tenham entre 18 e 65 anos e com uma multa por não comparecer às urnas de US$ 47 (R$ 270).

Político da centro-direita, Noboa se deparou com desafios substanciais no curto mandato de um ano e meio, no qual parecia estar a todo o tempo em clima de campanha a reeleição. Ele viu um canal de TV ser invadido ao vivo por homens armados, um dos maiores chefes criminosos fugir da cadeia e o sistema energético ruir com a seca.

Para combater a crise a galope da segurança pública, Noboa apostou na militarização do setor, o que é parte fundamental do “anti-noboísmo”, sentimento social de que a linha-dura do presidente corroborou para que houvesse violações de direitos humanos cometidas pelas mãos de soldados nas ruas. Os casos do tipo se acumularam.

Por outro lado, Luisa González, advogada e ex-deputada, carrega a carga simbólica dos governos de Rafael Correa, período de bonança econômica pela época áurea do boom das commodities, que alavancou as exportações de petróleo, mas marcado por escândalos de corrupção.

O próprio Correa foi condenado por um desses casos, mas afirma se tratar de mais um exemplo de “lawfare”, termo que se popularizou na região para falar de uma possível perseguição judicial com objetivos políticos. Hoje, ele vive na Bélgica, país natal de sua esposa.

É possível interpretar que o próprio primeiro turno deste domingo já foi ditado, em grande medida, pela pergunta “quem você não quer que ganhe” do que a óbvia “quem você deseja eleger”.

Isso porque até poucos dias antes do pleito, como mostrou a consultoria Cedatos em pesquisa de opinião, havia uma ampla indecisão dos equatorianos. Ao menos 34% deles diziam não saber em qual dos 16 candidatos votar, revelando que a fidelidade aos concorrentes não foi prioridade na eleição.

Durante seu curto mandato no Palácio de Carondelet, Noboa não teve grandes laços internacionais além de apoios expressivos de líderes que hoje não estão no cargo, como o ex-presidente da Colômbia Iván Duque. Mas, agora, mostrou que pode se aliar a Donald Trump.

Ele foi o único líder da América do Sul, além de Javier Milei (Argentina), a participar da cerimônia de posse de Trump em Washington. Noboa é bem relacionado especialmente do secretário de Saúde do republicano, o anti-vacina Robert Kennedy Jr., de cuja família é próximo.

Ainda assim, uma resposta sua à revista New Yorker em junho passado surpreendeu. Questionado sobre com qual líder da América Latina ele mais se sente alinhado, sua resposta foi o presidente Lula (PT), referência da esquerda. Por que? Noboa disse que conheceu Lula há 15 anos, durante uma cúpula empresarial, e ficou impressionado com sua sabedoria política e sua habilidade de levar adiante uma agenda.

Já González aumentaria o leque de políticos à esquerda na região —Claudia Sheinbaum (México), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (que tomará posse no mês que vem no Uruguai), Gabriel Boric (Chile) e mesmo Lula. Durante a campanha, ela se recusou a criticar a ditadura da Venezuela, enquanto, por outro lado, Noboa não só o fez como reconheceu o opositor Edmundo González como o verdadeiro eleito do pleito de 2024 e o recebeu na capital Quito.