Crise econômica atrapalha Scholz em debate contra Merz na Alemanha – 09/02/2025 – Mundo

No primeiro debate da campanha eleitoral alemã, Olaf Scholz enfrentou seu propalado sucessor, Friedrich Merz, e também o saldo não muito brilhante de seus três anos de governo. Neste domingo (9), sobretudo a crise econômica alemã não deu muito espaço para o primeiro-ministro explorar a maior fragilidade do adversário, o flerte com a sigla radical AfD.

Organizado pelas TVs públicas alemãs, o embate foi precedido por manifestações por toda a Alemanha. No sábado (8), 250 mil pessoas em Munique, segundo a polícia, protestaram contra a aproximação de Merz com o partido da extrema direita em votações recentes relacionadas à crise imigratória. Como no fim de semana anterior, manifestações ocorreram em diversas cidades do país, e a sede da CDU, o partido de Merz, amanheceu cercada pela polícia em Berlim.

O assunto se impunha e abriu a hora e meia de discussão. Merz voltou a alegar que precisava fazer alguma coisa depois do ataque de um afegão, que matou duas pessoas a facadas, incluindo uma criança de dois anos, em Aschaffenburg. Listou ainda uma lista de políticas defendidas pela AfD com as quais não concorda, como a saída da União Europeia, a volta do marco alemão e guinadas nas relações com EUA e Rússia.

“Estamos em mundos completamente diferentes nestas questões”, declarou o candidato conservador, que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Scholz declarou que sua gestão endureceu as leis de imigração e de segurança nas fronteiras. Lembrou ainda que a atuação de Merz como líder da oposição reteve parte das mudanças que propunha. Segundo o primeiro-ministro, as deportações aumentaram 70% no seu governo. Merz respondeu com números: no mesmo período, a Alemanha absorveu dois milhões de imigrantes irregulares, “mais do que a população de Hamburgo”.

As moderadoras, porém, logo mudaram o assunto para economia, um dos campos em que o governo Scholz mais é reprovado pela população. Sua sigla, o SPD, tem 16% das preferências, na média dos levantamentos, dez pontos percentuais a menos do que em 2021, quando obteve a maior bancada do Parlamento e elegeu Scholz.

O primeiro-ministro então passou para a defensiva. “Não fui eu quem invadiu a Ucrânia”, declarou, depois que Merz começou a desfiar os péssimos indicadores alemães. “Isso já é desindustrialização”, rebateu Merz, depois de o social-democrata afirmar que seu programa de governo preveniria o problema.

Nas cordas, Scholz subiu o tom na esperança de provocar algum rompante do adversário, conhecido por explosões de temperamento. “Não entendo como alguém pode ser tão estúpido”, disparou o primeiro-ministro em determinado ponto. Merz, atento, apenas sorriu.

Scholz também mostrou certa agressividade ao falar de política internacional, em oposição ao perfil que cultiva como chefe de governo. Classificou de “escandalosa” a proposta de retirar os palestinos de Gaza, feita por Donald Trump, e que retaliaria imediatamente qualquer tarifa que o presidente americano anunciasse contra os produtos alemães.

Merz, por outro lado, adotou posição mais diplomática. Conservador e católico, chegou a afirmar que conseguia entender a decisão de Trump de só permitir dois gêneros.

Divergiram também nos assuntos que se transformaram em bandeira de campanha da CDU, como a reabilitação da energia nuclear e o freio da dívida, versão local do teto de gastos. Scholz defende o relaxamento da regra, sem a qual não vê possibilidade de recuperação econômica rápida para a Alemanha. Foi uma discussão sobre o tema, inclusive, que fez ruir sua coalizão de governo, pois teve que demitir seu ministro das Finanças, o liberal Christian Lindner, depois que ele se recusou a aderir à ideia.

Scholz e Merz voltam a se enfrentar em debate no próximo fim de semana, mas na companhia dos outros dois candidatos a premiê, Alice Weidel, da AfD, e Robert Habeck, dos Verdes. A eleição ocorre no domingo seguinte, 23 de fevereiro