O advogado Robert F. Kennedy Jr., indicado pelo presidente Donald Trump para chefiar o Departamento de Saúde dos Estados Unidos, negou durante sabatina no Senado, nesta quarta-feira (29), que ele seja antivacina, a despeito de seu histórico de espalhar desinformação sobre a imunização.
Mencionando um livro que ele escreveu em 2014 aos senadores, que devem confirmá-lo ou rejeitá-lo no cargo, Kennedy, 70, disse: “A primeira linha diz: ‘Não sou antivacina’, e a última linha diz: ‘Não sou antivacina’.”
Enquanto esse comitê é responsável por avançar com sua nomeação para o Senado, Kennedy também era aguardado em um segundo painel da Casa, nesta quinta (30), que supervisiona a saúde.
O Senado controlado pelos republicanos ainda não rejeitou nenhum dos indicados de Trump até agora. A nomeação de Kennedy também colocará à prova a lealdade dos legisladores republicanos, já que o ex-democrata mantém uma série de posições não convencionais que poderiam alienar tanto conservadores quanto liberais.
Embora a maior parte da oposição a Kennedy seja motivada por sua posição sobre vacinas, alguns republicanos também se opõem a seus comentários em apoio aos direitos ao aborto, bem como sua postura percebida contra a indústria farmacêutica.
Durante a sabatina, senadores democratas mencionaram uma série de declarações feitas por Kennedy, sem quaisquer embasamentos científicos, incluindo uma fala de que nenhuma vacina é segura e eficaz.
Em depoimento por escrito ao Comitê de Finanças, Kennedy disse que não é contra vacinas ou contra a indústria farmacêutica e que acredita que “as vacinas têm um papel crucial na saúde”. Ele acrescentou que seus próprios filhos foram vacinados, embora tenha ajudado a fundar o grupo antivacina Children’s Health Defense.
Kennedy diz que quer trabalhar para acabar com doenças crônicas, romper quaisquer laços entre funcionários do órgão regulador de medicamentos dos EUA e a indústria, e aconselhar os sistemas de água dos EUA a remover o flúor. Ele criticou a indústria alimentícia dos EUA por adicionar ingredientes que, segundo ele, tornaram os americanos menos saudáveis.
Kennedy precisa do apoio de pelo menos 50 senadores para ser aprovado ao cargo. Nesse cenário, o vice-presidente J. D. Vance teria o voto de desempate, uma vez que acumula o cargo de presidente da Casa.
O senador democrata Michael Bennet descreveu Kennedy como alguém que fala com convicção, mas que tem um histórico que inclui meias verdades e declarações falsas. “Não importa o que você venha dizer aqui”, disse Bennet. “Isso não reflete o que você realmente acredita.”
O democrata Ron Wyden criticou o sabatinado, afirmando que ele abraçou teorias da conspiração e charlatães, especialmente no que diz respeito às vacinas. Wyden acusou-o de semear dúvidas e desencorajar a vacinação infantil, o que, segundo ele, demonstra um perfil de alguém em busca de dinheiro e influência, mesmo à custa de vidas.
Kennedy não escapa de críticas nem dos parentes. Caroline Kennedy –embaixadora e filha do ex-presidente John Kennedy– enviou uma carta aos principais senadores, na terça (28), apelando para que derrubem a nomeação do primo ao cargo. Robert Jr. é filho do ex-senador Robert F. Kennedy (1925-1968).
No texto, Caroline o chama de “predador viciado em atenção”. Diz, ainda, que o primo propaga afirmações falsas sobre vacinas e que não está apto para chefiar a pasta da Saúde. A prima apelou para que o Senado rejeite sua nomeação afirmando, entre outros motivos, que o familiar se torna um perigo ao ocupar um cargo responsável por gerir a saúde nacional. Na carta, descreve que o primo levou outros membros da família ao vício em drogas.
Como defensor do movimento antivacina, Robert Kennedy expressou visões obscuras e conspiratórias do governo anterior, da imprensa, das instituições científicas e, durante anos, da indústria farmacêutica. Promoveu teorias absurdas e desacreditadas.
O Senado dos EUA tem realizado sabatinas para confirmar os indicados de Trump para cargos de alto escalão. Recentemente, Pete Hegseth passou pela mesma audiência para o cargo de secretário de Defesa, assim como Pamela Bondi, indicada para o Departamento de Justiça —eles foram aprovados.
Bondi foi indicada após a primeira escolha de Trump, o ex-deputado Matt Gaetz, ser obrigado a desistir porque seria rejeitado pelo Congresso devido a acusações de má conduta sexual.